CORREIO BRAZILIENSE - 27/12
Quem entende do traçado da política, recomenda que se preste atenção nas ações do ministro da Educação, Aloízio Mercadante, em 2013. Ele entrou no início do governo Dilma Rousseff sem que ninguém soltasse um “boto fé” na sua gestão como ministro. Muitos trataram como uma compensação por causa da derrota em São Paulo na eleição de 2010, quando ele concorreu ao governo do Estado. Na equipe de Dilma, passou de ministro da Ciência e Tecnologia, uma área mais técnica que não costuma dar muita projeção em termos políticos, para a Educação, vitrine de primeira grandeza. Não por acaso, Cristovam Buarque saiu dali, mudou de partido e virou candidato a presidente da República concorrendo contra o antigo chefe, Lula. Perdeu, mas jogou a educação na roda. Tarso Genro, sucessor de Cristovam, hoje é governador do Rio Grande do Sul. Tarso foi sucedido por Fernando Haddad, prefeito eleito de São Paulo. Não se surpreenda se Mercadante for daí para mais.
Ele e o ministro de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, são os únicos convidados a acompanhar Dilma em todas as viagens internacionais — fora aqueles que o fazem por dever de ofício, Antonio Patriota (Relações Exteriores) e do assessor internacional, Marco Aurélio Garcia. Mercadante e Pimentel estão lá por causa das reuniões de estudo e planejamento governamental que a presidente empreende nos vôos e alguns intervalos na agenda.
Esse papel rendeu especulações da transferência de Mercadante para várias pastas. Para cada área em que aparece um problema, alguém levanta o nome do ministro da Educação. Quando Dilma se estranhou com Patriota houve quem jurasse que Mercadante seria transferido para o Ministério de Relações Exteriores. Quando se especulou um mal-estar entre Dilma e a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, lá surgiu o zum-zum-zum de Mercadante no lugar da senadora paranaense.
Agora, a bola da vez na bolsa de apostas sobre o futuro próximo de Mercadante é o Ministério de Relações Institucionais, área do governo que aparenta concentrar hoje os maiores problemas, haja vista a falta de negociação dos royalties e o descontrole que fez com que os congressistas entrassem em recesso sem a apreciação do Orçamento pelo plenário. A quantidade de desencontros no Parlamento fez com que o ministro da Educação fosse inclusive acionado para dar uma ajuda no quesito Presidência da Câmara, leia-se o PMDB, o que só fez crescer as especulações de que ele substituirá Ideli Salvatti.
Mas, pessoas próximas a Dilma garantem que essa troca não é uma operação simples. E nem Mercadante é considerado pelos peemedebistas o melhor interlocutor do governo para assuntos internos (do partido) tampouco do parlamento. Os peemedebistas não se esquecem que, em 2009, Mercadante, então líder do governo Lula no Senado, chegou a entregar o cargo por conta do arquivamento das denúncias contra o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP). Só permaneceu na liderança do governo porque Lula pediu.
E não foi apenas Sarney o ofendido com a atitude de Mercadante. Naqueles dias, o então senador foi à tribuna da Câmara e disse com todas as letras: “É um custo político que estamos pagando pela aliança com o PMDB que não pode ser pago. É muito mais difícil ser líder em condições como esta”. Seguindo a máxima de quem bate não se lembra, Mercadante talvez não se recorde de tudo o que falou há pouco mais de três anos. Mas, o ditado popular reza ainda que quem apanha, jamais esquece. E é esse o caso dos peemedebistas em relação ao então líder de Lula que viria a ser o candidato do PT ao governo de São Paulo no ano seguinte.
Feita esse breve história da truncada relação entre Mercadante e os peemedebistas, há quem diga que, se Dilma transferir o ex-senador da Educação para Relações Institucionais, criará problemas com o primeiro aliado. Para completar, o cargo de Relações Institucionais sempre foi considerado de difícil execução e destinado a absorver os embates e as culpas pelos fracassos, uma vez que, se a culpa recair sobre o presidente da República, reza a lei não escrita que o insatisfeito deveria sair. Portanto, para não se afastar do governo e nem brigar com a presidente, os políticos acabam culpando sempre a articulação política do governo.
No geral, há ainda outros problemas. O primeiro é de estratégia futura. Relações Institucionais não é um cargo que projete ninguém a governo estadual, por exemplo. Ali, quando há vitórias, o ganho é da presidente da República, não do ministro. Na Educação, a vitrine é do titular. O segundo entrave é que Mercadante tem hoje a tarefa de ajudar a pensar e teorizar as ações governamentais. A área de Relações Institucionais cuida do dia a dia da política. Nesse caso, seria mais difícil o ministro organizar os afazeres para se liberar uns dias a fim de acompanhar as viagens presidenciais. Diante dessas premissas, Dilma terá de escolher: ou mantém Mercadante no núcleo formatador do governo, como é hoje, ou o transfere para a linha de frente. Esse é um dos dilemas para pensar durante o descanso na base de Aratu.
Por falar em descanso…
Fui! Que 2013 venha recheado de saúde, harmonia, solidariedade, amor, respeito, mais seriedade na política e um PIB melhor! Um brinde a 2013! Volto em 4 de janeiro.
Um comentário:
E Dilma toma decisões? Não consigo deixar de vê-la como marionete.
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