O Brasil foi relapso, nas últimas décadas, com uma lição básica oferecida pelas nações que chegaram aos mais avançados estágios de desenvolvimento. Os governos descuidaram dos investimentos em infraestrutura, e os efeitos desse desprezo se manifestam agora de forma implacável, quando o país não consegue tirar proveito integralmente das oportunidades criadas por um persistente ciclo de estabilidade interna. Faltam ou estão sucateados aeroportos, rodovias, ferrovias, portos, energia. O preço do descaso são os altos custos pagos por quem produz e a desconfiança de investidores externos. Somente em anos recentes, foram notados movimentos do setor público no sentido de corrigir tantos erros, mas sem que tais iniciativas cheguem a expressar uma sólida agenda de longo prazo.
O Brasil é retardatário em praticamente todas as áreas que propiciam condições para avanços econômicos. No ano passado, os investimentos públicos e privados em infraestrutura cresceram apenas 2%. Os recursos aplicados em infraestrutura estacionaram na média de 2,1% do PIB ao ano. A China, para ficarmos no exemplo da economia que mais cresce no mundo, investe pelo menos 7%. Perdemos as oportunidades para conciliar o crescimento com a reavaliação e a modernização de setores decisivos, como transporte. Nossa economia ainda se movimenta sobre o asfalto. A matriz rodoviária detém 65,6% dos transportes, e a malha ferroviária fica com apenas 19,5%. Dos 66 aeroportos do país administrados pela Infraero, a grande maioria não acompanhou o crescimento econômico e a melhoria do padrão de vida da população, que somente nos últimos dois anos fez o transporte aéreo de passageiros aumentar 29%.
Apenas recentemente o governo federal passou a corrigir a desconexão entre crescimento e infraestrutura e convocou os empresários a participar de concessões em rodovias e ferrovias, que podem assegurar investimentos de até R$ 80 bilhões em cinco anos. Em dezembro, o plano federal incluiu portos e aeroportos, com regras que, se cumpridas, poderão reafirmar o desejo concreto do setor público de compartilhar, com as empresas, investimentos em atividades das quais depende toda a economia.
Na área de energia, o adiamento de investimentos já submeteu a atual administração federal ao constrangimento de quatro apagões, pelos mais variados motivos, todos identificáveis: carência de manutenção preventiva, sucateamento de equipamentos e ausência de uma reavaliação profunda na engenharia de distribuição. Pela precariedade de estradas, portos, aeroportos, energia, o Brasil está em 48º lugar no ranking elaborado anualmente pelo Índice de Competitividade Global, do Fórum Econômico Mundial. O governo dispõe de fartos subsídios para agir, depois de superadas todas as fases de diagnóstico dos grandes problemas brasileiros, identificados a partir das demandas de todos os setores de atividade. O passo a seguir é o da execução de ações, para que o Brasil se mantenha na privilegiada lista de países onde, apesar dos estorvos, vale a pena investir.
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