FOLHA DE SP - 20/11
Ainda estamos longe da democracia dos EUA, a qual dista outro tanto das democracias da Europa
Ninguém no Brasil escreveu ou disse que Barack Obama é comunista, quer dividir a sociedade, deseja atear fogo à convivência social, é golpista, ou outras coisas nesta linha.
No entanto, Obama está dizendo e reiterando que "os ricos têm que pagar mais impostos", que "os do topo" têm de "pagar alíquotas mais altas", das quais ele "não abrirá mão". E que "a classe média não pode ser mantida refém dos abastados, que têm desoneração de impostos". E que, na condição de reeleito, o que fará com o aumento de impostos dos ricos é "ajudar as famílias de classe média e aquelas que estão lutando duro para chegar lá".
Dilma Rousseff poderia fazer referências semelhantes? E caso fosse Lula a fazê-las? Nem vale a pena especular sobre a crise vulcânica subsequente. Seria de dimensões e consequências inimagináveis.
A diferença dá a medida da distância a que ainda estamos da democracia dos Estados Unidos, a qual dista outro tanto das democracias da Europa do norte.
Ou seja, na escala da evolução política, e portanto da democracia, apenas podemos ver a escada.
OS GANHADORES
Será interessante saber como o Ministério Público Federal de Goiás pedirá 80 anos de prisão para Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, sem encaminhar à prisão também os políticos do PSDB, do DEM, do PT e outros comprometidos com o principal acusado e suas atividades.
O relatório da chamada CPI do Cachoeira, por sua vez, tem a apresentação prevista para quinta. Nenhum malabarismo do deputado-relator Odair Cunha será capaz sequer de disfarçar a vileza que dominou e invalidou a CPI. A empreiteira Delta e seu "ex-dono" Fernando Cavendish estão recompensados pelo que fizeram para a CPI ser o que foi. Mas não são os únicos recompensados.
OS (IR)RESPONSÁVEIS
Ao menos para quem não tenha medo da morte, é muito compreensível a ideia de "talvez preferir morrer a viver em um dos presídios medievais no Brasil" -como opinou o ministro José Eduardo Cardozo. A reação que provocou só pode resultar, a meu ver, desta fase obtusa em que, não importa o dito, será atacado se veio de preferência partidária alheia.
Cardozo e o governo federal foram atacados até no Supremo Tribunal Federal pelas condições bárbaras das prisões brasileiras. Como se o Supremo nada tivesse com essa situação inconstitucional. Mas, além disso, os presídios não são obrigações prioritariamente federais.
Os Estados têm as suas polícias, o seu Ministério Público, o seu Judiciário e, como complemento, o seu sistema carcerário. E neste está o menor nível de investimento em melhorias e novas construções, e a realidade mais desumana. A alegada falta de recursos é mentirosa. O que há é desvio (em vários sentidos, claro) e baixo ou nenhum resultado político da construção de presídios.
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