FOLHA DE SP - 20/11
Hamas deflagra mais um confronto com Israel, que responde com força; novo governo do Egito pode ajudar em solução diplomática
Mais uma vez, forças do Exército de Israel e militantes do Hamas se enfrentam, provocando dezenas de mortes, a maioria de palestinos. Teme-se que o governo do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, lance ofensiva terrestre na hiperpopulosa Gaza, o que elevaria ainda mais a estatística fúnebre.
As ações do Estado judeu são uma resposta ao lançamento de foguetes contra alvos israelenses por parte de extremistas palestinos em Gaza. Tais disparos são de fato inadmissíveis. Nenhum país deve tolerar que um território vizinho jogue continuamente saraivadas de mísseis -mesmo que de baixa letalidade- contra seus cidadãos.
Contudo, até de um ponto de vista pragmático, o caminho marcial não é a melhor resposta. Israel já tentou resolver essa situação "manu militari" em 2008, na Guerra de Gaza, e não obteve sucesso.
O saldo daquele confronto foi de cerca de 1.300 mortos, 99% dos quais palestinos, mas a capacidade do Hamas e de outros grupos de atacar Israel com foguetes não foi reduzida. Ao contrário, os bólidos hoje alcançam alvos mais distantes, como Tel Aviv e Jerusalém.
A atual campanha israelense pode não passar de mera expedição punitiva a fim de demonstrar a força de um governo que enfrentará eleições dentro de dois meses. Outra possibilidade é que os israelenses calculem que a melhor forma de lidar com o Hamas é promover a cada quadriênio uma grande poda em sua infraestrutura militar.
Nada disso, porém, atende aos fins de longo prazo de Israel. Se o país pretende um dia viver em paz com seus vizinhos, precisa cuidar para que surjam lideranças palestinas dispostas a discutir um acordo.
Paradoxalmente, a queda do ditador egípcio Hosni Mubarak e sua substituição por um governo da Irmandade Muçulmana -ideologicamente muito próxima do Hamas- pode ser uma boa oportunidade para mudar um pouco o jogo.
A Irmandade Muçulmana não deve rever os acordos de paz que o Egito assinou com Israel em 1979. Não lhe interessa, aparentemente, acirrar o conflito entre o Hamas e os israelenses, o que poderia arrastá-la para a disputa.
Por outro lado, se conseguisse promover uma trégua duradoura ou, melhor ainda, levar Israel e o Hamas para a mesa de negociações, ganharia preciosos pontos com os países ocidentais, que veem com desconfiança a origem islâmica do novo governo egípcio.
Para o Hamas, uma concessão intermediada pela Irmandade seria menos amarga que uma arrancada por outros atores. Já Israel, cada vez mais isolado na região, não poderá agir indefinidamente como se não houvesse uma questão palestina a ser resolvida por meio de negociações sérias.
Resta esperar que a presente conflagração seja a tempestade que antecede a calmaria. Tratando-se do Oriente Médio, todo ceticismo é pouco.
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