O GLOBO - 29/11
Mais uma Conferência das Partes (COP) da Convenção Internacional sobre mudanças climáticas se realiza. Esta é a 18ª desde a Rio-92. De lá para cá, contínuas evidências científicas já não deixam dúvida de que a temperatura global está aumentando e que as atividades humanas são a principal causa dessa tendência.
Nos os últimos 20 anos, várias iniciativas para um acordo global têm sido lançadas. Acompanhei as últimas três COPs. É um processo de negociação complexo, pois a maioria dos países vê as ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas como ameaças às suas economias. Isso porque as principais emissões decorrem da queima de combustíveis fósseis. Segundo o Painel Intergovernamental sobre mudanças climáticas, 56,6% das emissões globais eram consequência dessa queima em 2004. E, como mudar essa dinâmica não é simples, a maioria dos países prefere uma postura reativa.
O Brasil tem buscado assumir uma liderança proativa. Em 2009, em Copenhagen, o país ofereceu compromisso voluntário de reduzir mais de 36% das suas emissões projetadas para 2020, principalmente com a redução do desmatamento. Em 2012, em Durban, foi um dos países que buscaram um acordo para a redução mais ampla das emissões. A partir de 2020 os países emergentes se juntarão aos desenvolvidos no esforço da estabilização das emissões. Essa postura pode evoluir mais um passo. O Brasil tem características que lhe permitiriam buscar oportunidades. Temos uma matriz energética relativamente limpa (48% de fontes renováveis) e se estima que permanecerá assim pelo menos até 2019. O Brasil também tem a maior área arável do planeta, ampla insolação e disponibilidade de água. Somos o segundo maior produtor mundial de etanol e, recentemente, graças a investimentos no polietileno verde, nos tornamos o maior produtor de biopolímeros.
É possível sonhar mais alto. O país pode se tornar o maior fornecedor mundial de produtos químicos de origem renovável. Os benefícios dessa alternativa industrial são muitos. O econômico, com o aumento das exportações. O social decorreria da maior geração de empregos ao incentivar a cadeia industrial e a agrícola. Mas o grande diferencial vem do lado ambiental. O polietileno verde, em vez de emitir, captura gases de efeito estufa. A razão é simples: o carbono que acaba fazendo parte da composição da resina vem do etanol da cana de açúcar, cujo carbono vem da atmosfera.
Está em nossas mãos a possibilidade de transformar esse potencial em realidade. O lado empresarial já mostrou que é possível. Mas é necessário aumentar a escala. O governo pode fazer a diferença incentivando pesquisa e desenvolvimento dessas tecnologias e apoiando a desoneração dos investimentos verdes.
Dessa forma, o Brasil pode dar importante passo para se tornar uma potência mundial da economia verde e inclusiva e contribuir para uma "virada climática e competitiva".
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