FOLHA DE SP - 29/11
GLÓRIA PEREZ
"BRASILEIRO É PRECONCEITUOSO, O ESPELHO INCOMODA"
Para Gloria Perez, autora de "Salve Jorge", as críticas à novela revelam preconceito. Em entrevista à coluna, ela diz que não dá para comparar o Complexo do Alemão com o Divino, de "Avenida Brasil". A seguir os principais trechos da conversa.
Folha - O que você acha das comparação de "Salve Jorge" e "Avenida Brasil?
Gloria Perez - Uma bobagem. Comparar o Complexo do Alemão com o Divino é uma insanidade. Não se compara subúrbio com favela. Vida de subúrbio é cadeira na calçada, venda do vizinho. A carta chega à sua casa. Na favela, carteiro não sobe. É isso que retrato.
"Avenida Brasil" também retratou a classe C?
Lá era um subúrbio idealizado. É uma ficção. "Salve Jorge" é a favela real. Por isso, menos palatável. São enfoques e propostas completamente diferentes.
E as críticas à protagonista?
É preconceito contra as meninas dessa origem. Elas vivem isso no cotidiano. Não são periguetes. Na favela, essa maneira de vestir não está atrelada a um comportamento como no asfalto. Elas tiveram acesso ao mercado, ao crédito. Agora, estão podendo comprar e construir seu próprio estilo.
O que acha de Nanda Costa?
Nanda é uma atriz intensa, cheia de nuances. É a Morena que imaginei. A garota do subúrbio é palatável, está sempre nas novelas. A da favela, não. Morena é exatamente uma menina do Alemão. Isso assusta. Quem representa esse estranhamento é dona Áurea [Suzana Faini], a mãe do Théo [Rodrigo Lombardi]. Brasileiro é preconceituoso. Dona Áurea expressa algo bem característico nosso: "Com meu filho, não". Compreendo as reações. O espelho incomoda.
Ela estaria um tom acima?
Morena não tem que baixar o tom. Ela se criou no meio de tiroteio. Na favela tudo é luta. Ela está sempre alerta para se defender. Quando sai de casa pode vir uma bala de cada lado, da polícia ou do traficante. Quando vai para o asfalto é sempre olhada com desconfiança, como se fizesse parte da bandidagem. Ela precisa ter marra para sobreviver.
O que mais Morena espelha?
Ela não abaixa a cabeça. O preconceito não a faz se sentir menor. Ela não tem culpa de ter crescido num espaço que o Estado não ocupou e deixou entregue ao comando do crime. Ela diz: "Não importa de onde a pessoa venha, importa aonde ela chega". Acho bonito esse orgulho de ser o que é.
Mostra também a vaidade?
No começo, eu li que a Morena estava arrumada demais para uma garota do morro. Mas lá é assim. Vi no Twitter de uma moradora da favela um comentário rebatendo as críticas: "A gente já não tem nada, querem também que não tenha unha nem cabelo?". São centenas de cabeleireiros no Alemão. A vaidade é uma forma de sair daquele mundo. A aparência é o passaporte para um emprego melhor, uma aceitação maior para além dos limites da favela. Então, Elas investem nisso.
Não é só sofrimento?
O cinema brasileiro sempre explorou o mundo da favela como algo triste. Só era alegre no Carnaval. Depois é "lata d'água na cabeça". Mas as mulheres da favela não são assim. Nem gostam de ser vistas assim.
SOB O VÉU
A estilista Lethicia Bronstein pôs seus vestidos de noiva em exposição, na galeria Canvas. O fotógrafo André Schiliró e a atriz Nathália Rodrigues foram a Pinheiros conferir.
EM BUSCA DO PARAÍSO
O ex-presidente Lula acha que "o Senado é melhor que o paraíso. Você nem precisa morrer pra ir pra lá". Fez a declaração anteontem ao conversar com o prefeito de Los Angeles, Antonio Villaraigosa (Partido Democrata). Estavam no jantar de gala do Calendário Pirelli, no Rio, em que Lula foi homenageado.
EM BUSCA DO PARAÍSO 2
A frase usada por Lula é atribuída ao antropólogo Darcy Ribeiro, que foi senador pelo Rio. O ex-presidente ainda comparou o trabalho de senador e governador. "Sempre pensei que eleger senador é melhor que eleger governador. Porque governador depende do governo federal. No Senado, você passa oito anos e vira Deus", disse.
ENSAIO
A hipótese de Lula ser candidato ao Senado por São Paulo, na eleição de 2014, circula no PT e no PSDB. Sem muita força, já que ele repete que não será mais candidato a nada.
LULA CULT
Lula aproveitou para cumprimentar Villaraigosa pela reeleição de Obama e revelou que adora um filme que se passa na cidade americana governada por ele: "Los Angeles Cidade Proibida".
MAMÃE É FÃ
E o ator americano Owen Wilson, que estava na festa, tirou foto de Lula com o celular. "Minha mãe gosta dele. Vou mandar pra ela e contar que estive com o presidente (sic) do Brasil", disse à Folha.
PRA GRINGO VER
A atriz americana Jane Fonda, que está no Brasil para lançar o livro "O Melhor Momento", pediu para conhecer uma favela no Rio.
CURTO-CIRCUITO
A Doc Galeria realiza bazar de fotografias até o dia 22 de dezembro.
Rafael Medina fala sobre joias na arte, às 18h, no Coleções Escritório de Arte.
João Pedrosa inaugura a instalação "Casaleria" na Berenice Arvani, às 19h.
O Na Mata Café comemora 12 anos com festa para convidados, às 20h30.
Evian & Badoit fazem lançamento no Unique.
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