FOLHA DE SP - 29/11
SÃO PAULO - Não é da tradição do jornalismo brasileiro tratar da vida privada dos políticos. Diferentemente do que ocorre nos EUA e em outros países, opção sexual, amantes, bebedeiras e uso de drogas não são normalmente considerados como assuntos para reportagens.
O entendimento muda se o sujeito mistura sua vida particular com a profissional. Um prefeito, por exemplo, que nomeie a sobrinha para um cargo público pode acabar virando notícia. O mesmo ocorre com um secretário de Segurança que frequente a casa de um chefe de quadrilha.
Na sexta passada, a PF indiciou, por suspeita de corrupção e tráfico de influência, a assessora Rosemary Noronha. Ex-secretária do PT, foi nomeada no governo Lula para o cargo de chefe de gabinete do escritório da Presidência em SP e rodou o mundo a serviço do Planalto, viajando com o então presidente para 23 países.
Acumulou tanto poder que conseguiu, inclusive, emplacar diretores em agências reguladoras mesmo quando havia resistência no Congresso. Em situação incomum, o Senado aprovou um nome indicado por Rose que vetara quatro meses antes.
Há anos especula-se nos corredores do governo sobre a origem do seu poder, zum-zum-zum que cresceu agora com a ação da PF. Em editorial, o jornal "O Estado de S. Paulo" disse que sua influência "derivava diretamente de sua intimidade com Lula".
Diante da gravidade das acusações da PF, Lula deveria dar explicações sobre sua antiga assessora. Ela tem qualificações para o cargo que ocupava? Quais eram suas atribuições nas viagens e por que ganhou passaporte diplomático? E como conseguiu dobrar o Senado?
Dilma, que a deixou no cargo até sábado, também deveria prestar esclarecimentos. Se a função de Rose era tão importante, por qual razão a presidente simplesmente extinguiu o seu cargo após as revelações da PF?
Sem explicações convincentes, resta uma questão: Lula misturou sua vida privada com a pública?
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