É preciso premiar de forma sistemática o mérito dos bons alunos e gerar uma cultura de negócios e inovação
O tipo de educação que teremos demanda primeiro uma definição sobre o país que desejamos ser. Se pretendemos ser um país produtor de tecnologia, precisamos formar profissionais não apenas bem preparados tecnicamente, mas pessoas capazes de repensar paradigmas e inovar. Isso significa, em primeiro lugar, uma aposta na excelência acadêmica. Qual é a fórmula? Não creio que exista uma. Há um conjunto de práticas que qualquer instituição pode seguir. Selecionar professores com isenção e critério acadêmico, investir em pesquisa, criar condições e exigir que professores preparem suas aulas meticulosamente. E sempre lembrar que uma academia é um espaço da ciência, não da ideologia.
Qualquer gestor acadêmico deveria ler o clássico de Weber, A Ciência como Vocação. A universidade é um território de liberdade, de exercício do que Kant chamou de uso público da razão. Espaço onde tudo é permitido, desde que submetido ao rigor da ciência e do argumento analítico.
Preparar os alunos para o mercado é uma parte importante da vida acadêmica. Pode-se tratar de carreira profissional desde o primeiro semestre. As boas instituições fazem isso. Colocam seus alunos frente a frente com os melhores CEOs, estudam e produzem casos empresariais, fazem joint ventures para projetos, bolsas e bons laboratórios. Mas essa é apenas uma parte da história. Em grande medida, o mercado de trabalho também é produzido pelos estudantes. Larry Page e Sergei Brin eram estudantes de Stanford, no fim dos anos 90. Excelentes alunos. Brin era russo e chegou a Stanford com uma bolsa da National Science Foundation. Ambos poderiam arranjar bons empregos, mas resolveram criar uma empresa. O resto da história, nós conhecemos. Há aí uma grande lição. Boas instituições universitárias prepararam os alunos para o mercado. Instituições de excelência preparam os alunos para reinventar o mercado. Daí o sentido de premiar sistematicamente o mérito dos alunos, manter centros de empreendedorismo, participar de competições internacionais e gerar uma cultura de negócios e inovação entre os estudantes.
Por fim, penso que não há outro caminho, caso pretendamos dar um efetivo salto de qualidade na nossa educação superior, do que apostar em um forte processo de internacionalização de nossas instituições nos próximos anos. Precisamos atrair professores do exterior, ampliar a base de disciplinas em inglês em nossas instituições, buscar certificações reconhecidas internacionalmente e melhorar nossa posição nos rankings globais. No Brasil, fala-se muito em enviar alunos para estudar no exterior. Isso é importante, não há dúvida. Mas é preciso dar a mesma prioridade para atrair alunos do exterior para estudar no Brasil. Somos o maior mercado da América Latina e vamos sediar logo a seguir os dois maiores eventos esportivos do planeta. Há um claro potencial inexplorado de atração de alunos chineses, indianos e mesmo europeus, que facilmente perceberão no Brasil oportunidades mais sedutoras que aquelas do Velho Continente em crise. Temos desprezado, historicamente, o valor estratégico da captação de jovens talentos para nosso desenvolvimento. Há um longo caminho a trilhar, mas não parece haver dúvidas sobre qual é a agenda a perseguir.
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