FOLHA DE SP - 09/11
RIO DE JANEIRO - Poucas cidades no mundo são ou foram tão fotografadas quanto o Rio, e isso desde a invenção da fotografia, em cerca de 1840. Uma constante nesse material é a permanência da paisagem. De qualquer época, cenário ou ângulo, vê-se a foto e sabe-se que é o Rio. Os acidentes naturais, baía, morros, praias, compõem a moldura inconfundível. E, em alguns casos, até o homem contribuiu para essa permanência.
Nas fotos anteriores a 1912, por exemplo, com o Pão de Açúcar ao fundo, a ausência do bondinho torna a cena quase irreal. É como se ele, o bondinho, não tivesse sido inaugurado há apenas cem anos, mas sempre existido. Acostumamo-nos tanto àqueles cabos indo da praia Vermelha ao morro da Urca e, deste, ao Pão de Açúcar, e vice-versa, que a pedra parece incompleta sem eles.
E quantos sabemos que seu criador foi o engenheiro Augusto Ferreira Ramos, sem o qual só os alpinistas teriam acesso à vista lá de cima?
Na recente comemoração do centenário do bondinho, um arquivo alemão encontrou os planos para outro teleférico no Rio, encomendado por Ramos à mesma empresa que fabricou o "camarote carril" original. Ele sairia de Copacabana, no morro dos Cabritos, faria escalas em outros sete morros, inclusive o Corcovado, e iria até o do Trapicheiro, perto da praça Saens Peña, na Tijuca.
Os antigos tinham uma visão romântica das cidades. A vida era térrea, mas os morros eram tentadores. Por que não passear de bondinho sobre eles, vendo aquelas maravilhas?
Não se imaginava que arranha-céus viriam disputar com os morros em altura, cercá-los e tornar impossível o percurso. Ou que muitos morros seriam ocupados pela pobreza, ou tomados pelo crime e, até há pouco, teriam seu espaço aéreo interditado. Enfim, o romantismo do bondinho ficou no Pão de Açúcar, mas isso já dá para lamber os beiços.
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