FOLHA DE SP - 09/11
Esta, apesar dos pesares, era mesmo uma eleição a ser vencida pelos democratas nos EUA
As eleições americanas terminaram e Obama foi eleito para mais quatro anos de governo. Ao analisarmos o conteúdo dos programas e as posições políticas em relação aos principais temas debatidos no período eleitoral, vemos que existiram muito mais convergências do que divergências na essência do que se propunha fazer. Mas algumas diferenças merecem ser ressaltadas.
De uma forma geral, como é normal na tradição dos candidatos do Partido Democrata, Obama mostrou-se mais comprometido com medidas que levarão a maiores gastos do governo na área social.
Já Romney pregava a necessidade de administrar o país como se fosse uma grande corporação, cortando despesas e reduzindo o papel do Estado como supridor de benefícios.
Entre outras medidas, defendia o maior controle do uso de dinheiro público em programas na área de saúde e corte de isenção fiscal para aquisição de casa própria pela população de baixa renda.
O fato é que em tempos de vacas magras esse tipo de discurso acabou amedrontando boa parte da classe média americana, a qual parece, a cada dia mais, pretender ter as garantias sociais dos países europeus.
Nos temas ligados ao setor de energia, os candidatos também apresentaram algumas visões distintas em razão das posições que tinham em relação à política externa ao aquecimento global. Romney defendia que reduzir emissões de carbono nos Estados Unidos significava apenas exportá-las para a China, onde a menor preocupação local com os impactos ao ambiente contribuiria para piorar o problema global.
Obama foi opositor à invasão do Iraque desde o início do envio de tropas americanas para aquela região, cujo equilíbrio político acaba sendo fundamental para a garantia de suprimento e estabilidade dos preços de petróleo no mundo.
Apesar de não ter cumprido integralmente a expectativa de retirada militar do Iraque no seu mandato, Obama moveu as tropas americanas para a fronteira com o Irã e para o Afeganistão.
Por sua vez, Romney defendia uma política de maior intervencionismo via manutenção de tropas no Iraque como forma de garantir a estabilidade democrática daquele país. Propunha o crescimento do orçamento militar americano, mesmo ele já sendo maior do que os gastos somados das dez maiores potências bélicas do mundo depois dos EUA, e deixava claro que, apesar de defender a ampliação de sanções econômicas ao Irã, uma intervenção militar não deveria ser descartada.
Romney também mostrou ser um grande defensor de um megaprojeto chamado Keystone Pipeline. Esse projeto envolve a interligação por dutos da região produtora de óleo pesado na província de Alberta, no Canadá, até o Estado de Oklahoma, onde fica localizado o maior parque de armazenamento de petróleo americano, e de lá até as refinarias do sul do país, situadas no golfo do México.
O projeto vem tendo sua implantação adiada devido a uma série de demandas ambientais e somente há pouco tempo recebeu do governo de Obama o licenciamento para a construção de uma pequena parte do sistema proposto.
Romney também foi contrário no passado à utilização de dinheiro público para ajudar a salvar a indústria automotiva americana, fato que acabou contribuindo para um revés político no Estado de Ohio, considerado decisivo para as suas pretensões presidenciais. No entanto, propunha criar um grande pacote de ajuda à pesquisa energética e novas tecnologias aplicáveis a automóveis.
A reeleição de um presidente, principalmente em um sistema em que existe um bipartidarismo de fato, como o americano, pode ser considerada quase como um plebiscito. É verdade que o desempenho econômico dos Estados Unidos nos últimos anos ficou longe das expectativas do "Yes, we can", slogan da vitória democrata ao final de 2008, quando os EUA e o mundo passaram por uma de suas maiores crises. Mas grande parte da sangria foi estancada, e o país voltou a crescer a taxas razoáveis.
Aquela era certamente uma eleição a ser perdida pelos republicanos como foi, e esta, apesar dos pesares, era mesmo uma eleição a ser vencida pelos democratas.
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