O sangue da guerra na Síria contamina o Líbano, o que torna urgente uma intervenção internacional
UM GRUPO de intelectuais franceses defendeu ontem, em artigo no "Monde", uma intervenção do Ocidente na Síria.
"Estando o Conselho de Segurança da ONU paralisado pelos vetos russo e chinês, qualquer outra aliança se justifica para brecar os rios de sangue que correm nas cidades sírias", dizem Jacques Bérès, cirurgião de guerra que esteve na Síria exercendo sua função; os filósofos Bernard-Henry Lévy e André Glucksman; e Bernard Kouchner, ex-chanceler e um dos fundadores da ONG Médicos sem Fronteiras.
Os autores usam um argumento ponderável: "A situação recorda aquela da Espanha de 1936, quando as democracias se desonraram por sua neutralidade, enquanto, de seu lado, Mussolini e Hitler ajudavam os golpistas de Franco".
Não é a única solicitação de intervenção. A revista "The Economist" afirma que "a Otan precisa começar a montar um caso humanitário e estratégico para intervir na Síria".
O argumento da revista é apocalíptico: "O número de mortos na Síria passou de 30 mil. Em determinados dias, mais de 250 corpos se somam à pilha.
Se os próximos meses se estenderem por anos, como agora parece provável, as grandes cidades da Síria virariam pó, e todo o Oriente Médio sufocaria na poeira". É o que já começa a acontecer, agora que o conflito sírio transbordou para o Líbano.
Ontem, o Exército libanês emitiu comunicado pedindo contenção aos grupos em confronto no país, afirmando que "o destino da nação está em jogo".
Está acontecendo sem intervenção o que os anti-intervencionistas diziam que ocorreria se houvesse uma intervenção: o Oriente Médio sufocando na poeira, para usar a imagem da "Economist".
Dia sim, outro também, há escaramuças entre a Turquia e a Síria, o que leva Ian Bremmer, presidente do Grupo Eurásia, consultoria de risco político, a escrever para o "Financial Times": "Como em qualquer impasse do gênero, está crescendo o risco de que um simples erro de cálculo desencadeie uma escalada que ninguém poderá controlar".
Como se fosse pouco, ontem um soldado jordaniano morreu em incidente com grupos que queriam entrar na Síria para lutar ao lado dos rebeldes.
Ou seja, de todos os vizinhos da Síria, apenas Israel e Iraque se livraram, até agora, do sangue que borrifa do conflito.
Enquanto isso, a comunidade internacional fracassa em cada uma de suas tímidas iniciativas para brecar a carnificina.
Aposta tudo em um enviado especial, Kofi Annan. Dá em nada. Troca de enviado, agora Lakhdar Brahimi, que sugere um cessar-fogo. Ele próprio admitiu ontem que são escassas as chances de sua proposta prosperar.
O Egito até lançou uma iniciativa própria, ao propor uma mesa com dois adversários do pirômano de Damasco (Turquia e Arábia Saudita) e um aliado incondicional (o Irã). Tampouco andou.
Resta pois ao Ocidente repetir a omissão de 1936 na Espanha (custou uma guerra civil de três anos e um milhão de mortos) ou intervir antes que a acumulação de cadáveres gere tal ódio que torne o futuro sírio mais sombrio do que o presente.
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