terça-feira, outubro 23, 2012

O juro subiu no telhado - VINICIUS TORRES FREIRE

FOLHA DE SP - 23/10


Taxas caíram após campanha do governo, mas vão ficar estacionadas num patamar ainda aberrante 


OS JUROS NÃO caem mais, avisou o Banco Central na semana passada. Quer dizer, não caem mais no futuro próximo, até 2013, pelo menos, afora problema sério novo: lerdeza contínua na economia do Brasil, desastre na Europa, nos EUA, na China.

Até aqui chegamos: juros básicos a 7,25%, juro real a menos de 2%. Taxa média para pessoa física em 35,6%. Taxa média geral, 30,1%. Taxa média para financiar um carro em 25%. As taxas são anuais e os dados referem-se a agosto.

Até aqui chegamos depois de o Banco Central ter talhado o juro básico por mais de um ano, mesmo com perspectiva de inflação em alta e acima da meta.

Mesmo com as broncas de Dilma Rousseff. Mesmo com os bancos estatais emprestando a juro mais baixo, dando cotoveladas na concorrência privada, por ordem do governo. Mesmo com empresas grandes pegando dinheiro baratinho lá fora.

Enfim, para resumir: com juro real "básico" (aquele "decidido" pelo BC) a menos de 2%, o juro real médio para o consumidor ficou ainda nuns 30% (juro real: descontada a inflação). Para comprar um carro, taxa média real de uns 20%.

Os americanos pagam entre 4% e 5% ao ano para financiar um carro. Pagam uns 14% para rolar dívida no cartão de crédito (no Brasil, pelo menos uns 150%). Na média, o consumidor morre em juros de uns 7%, 8% ao ano.

Mesmo descontado o peso da aberração dos juros de cartão e cheque especial, ficou evidente, se já não estava, que no grito a taxa cai um pouco, mas continua aberrante.

Qual o problema? Os de sempre. A poupança no país é pequena ("falta dinheiro" para emprestar). A margem de lucro dos bancos é alta, embora cadente. A informação sobre o histórico de crédito dos clientes de bancos é ruim. Há impostos demais sobre a intermediação financeira ("empréstimos"). Há dificuldade ou incerteza sobre a recuperação dos empréstimos concedidos. Etc.

Note-se ainda que, apesar da campanha do governo, as taxas de juros para o consumidor caíram porque o custo básico do dinheiro caiu (pois a taxa básica de juros caiu).

O "spread", a diferença entre o que o dinheiro custa para os bancos e o que eles cobram para emprestar, caiu pouco. Mesmo assim, caiu porque os bancos estatais derrubaram as taxas e estão emprestando uns dois terços do dinheiro novo que chegou à praça desde o início da campanha dilmiana contra juros altos.

Do fim de 2010 até agosto passado, a taxa média de juros para pessoas físicas (nós, consumidores) caiu cinco pontos percentuais. O custo de captação dos bancos, porém, caiu quase isso, 4,2 pontos. Nesse período, o "spread" caiu de 23,5% para 22,5%.

Sim, taxa de juro real "básica" a 2% faz diferença. Tende a mudar, para melhor, a estrutura do mercado financeiro. Reduz o custo da dívida do governo. Mas a finança do país ainda é toda torta.

Não adianta só bater nos bancos. O problema é mais enrolado e não será resolvido sem um programa bem-feitinho, de médio, longo prazo. "Reformas", como mercadistas dizem, nem sempre sem razão. Isso não quer dizer que inexistam políticas ditas "alternativas" ou complementares ou provisórias para lidar com os problemas. Mas não dá para fingir que o custo de fazer negócios no país não seja um deles.

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