FOLHA DE S. PAULO - 21/10
Com Dilma e Haddad, Lula dá banho de loja no PT, mas "new look" ainda está longe de ter substância
O PT ANTIGO, para não dizer mesmo original, autodestruiu-se a fim de eleger Lula presidente. As lideranças que a partir de meados dos anos 1990 transformaram o partido na máquina centralizada, profissional, burocrática e pragmática que venceria em 2002 estão caídas, exiladas da política ou sob risco de prisão.
O PT novo, ou pelo menos o PT de 2012, brota dos detritos dessa máquina, a geringonça personalista comandada por Lula.
Sabemos pouco do que foi feito das "bases petistas" ou do futuro dos profissionais da burocracia do partido. Mas os eleitos de Lula quase nada têm a ver com os velhos PTs e nem com o próprio Lula.
Fernando Haddad está para vencer a eleição paulistana, a segunda mais importante desde o fim do governo Lula. Dilma Rousseff é a presidente. Os dois fizeram carreiras marginais no PT, não vieram das "bases", não comandaram a máquina e são, a seu modo, "intelectuais".
Apesar de popularíssima, Dilma não tem ascendência sobre o PT nem dissipou a névoa sobre 2014, pois ainda é frequente a falação sobre a volta de Lula. Haddad é noviço de todo. Embora esteja para subir na enorme plataforma que é a Prefeitura de São Paulo, isso não o habilita automaticamente a escalar outros degraus. Vide os casos de Marta Suplicy e Luiza Erundina.
Mas não se pode desprezar a novidade, seus possíveis efeitos sobre o PT e até mesmo sobre partidos que um dia se orgulhavam de seus quadros, como o PSDB.
Como está óbvio, Lula procura dar um banho de loja no PT.
Apesar de ridiculamente anacrônica, a imagem de partido "popular demais", de militantes enjoados, enfim, de esquerdistas, ainda pega mal entre muito paulista, pelo menos. O partido ficou ainda pior na foto quando vestido dos trapos das corrupções. Dilma e Haddad dão um ar, digamos, mais limpinho ao partido. São os postes iluminados, ilustrados, que Lula ajudou a eleger.
Ajudou a eleger, ressalte-se. Lula colocou o "new look" na prateleira, mas o eleitorado é que decidiu comprá-lo.
Como está óbvio, o eleitorado comprou "gente nova", dissociada da imagem do político "normal", com aparência apolítica, algo tecnocrática e de classe média. Pelo menos para o grande público, Dilma e Haddad não estão identificados com nenhuma causa célebre, ideologia distinta ou corrente política além do lulismo (que nem é um movimento popular, aliás).
O que o eleitor levou? Dilma e Haddad têm um passado de extrema esquerda, cada um a seu modo. No presente, estão mais preocupados em sobreviver, pragmaticamente.
Dilma procura quase apenas e desesperadamente reaquecer a economia enquanto toca o nosso pobrinho e precário Estado de Bem-Estar Tropical, sem grandes novidades.
Apesar de ter feito parte das equipes de Marta (prefeitura) e Guido Mantega (Planejamento) e de ter sido ministro, Haddad acabou de descer de paraquedas na política profissional. Não tem equipe, seguidores, causa ou projeto publicado.
Dilma e Haddad serão capazes de dar substância ao "new look", organizar uma nova corrente política? Ou não passarão da versão petista das "novas caras" da política, um grande vazio de homens/mulheres e ideias?
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