domingo, outubro 21, 2012

O futuro da humanidade - HÉLIO SCHWARTSMAN


FOLHA DE SP - 21/10


SÃO PAULO - Dados do Censo 2010 mostraram que o brasileiro tende a casar-se com alguém do mesmo grupo de cor ou raça (69,3%) e do mesmo nível de instrução (68,2%).
O efeito não é inédito nem está limitado a categorias sociais. Sabe-se que, quando podem, pessoas acabam se unindo preferencialmente a parceiros com altura e peso compatíveis, que frequentem a mesma igreja, tenham os mesmos gostos e partilhem um razoável número de traços de personalidade. Até mesmo afinidades políticas entram nesse jogo.
Pelo menos no Ocidente não patriarcal, indivíduos nunca foram tão livres para decidir com quem se casarão. Influências antes poderosas, como divisões tribais, castas e a influência de pais, com seus interesses em forjar alianças políticas, desempenham um papel cada vez menor nas sociedades industrializadas.
Com menos filtros externos que impunham alguma aleatoriedade às escolhas, os casais ficam cada vez mais parecidos. Em genética, esse processo tem o nome de acasalamento assortativo e pode levar ao aumento (ou à redução) da ocorrência de certas características na população.
É aqui que as coisas começam a ficar interessantes. Simon Baron-Cohen, um dos mais respeitados pesquisadores de autismo, especula que o acasalamento assortativo pode estar ligado à crescente prevalência da moléstia. Dois nerds que adoram números e têm certa fobia social se conhecem na faculdade de engenharia, se casam e têm um filho autista. No momento, Baron-Cohen tenta descobrir se ex-alunos do MIT têm uma proporção maior de filhos autistas.
E isso não é tudo. John Alford e John Hibbing, que estudam as bases genéticas da política, levantam a hipótese de que casamentos assortativos sejam um dos ingredientes do aumento da radicalização partidária. Já descambando para a ficção científica, podemos imaginar um futuro com o Brasil cindido em bandos de Homo lulensis e Homo tucanus.

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