CORREIO BRAZILIENSE - 01/10
Em fevereiro de 2009, no aniversário do PT, Dilma Rousseff circulou pela primeira vez entre os militantes como a pré-candidata do partido à Presidência da República. O début foi necessário para fazer com que os petistas vissem na figura da então ministra da Casa Civil uma aposta viável. Naquele tempo, a “mãe do PAC” era considerada um tiro no escuro. Havia o receio de que a população olhasse para Dilma e não reconhecesse nela o projeto do presidente mais popular que o Brasil tinha visto nos últimos tempos.
A então ministra passou naquele primeiro teste. No ano seguinte, quando a então candidata precisou dos militantes petistas empunhando bandeiras e pedindo votos nas ruas, ela contou com todos. Agora, essa situação se inverteu. Com a presidente batendo recordes de popularidade, é o PT que precisa de Dilma para mostrar que está diferente, mais maduro e tomou um “banho de loja”, digamos assim.
Essa necessidade de apresentar um PT diferente está cristalina para quase todos dentro do partido da presidente da República. Os petistas acreditam que a receita econômica que ela apresenta hoje ao país e o seu jeito de governar, meio longe das artimanhas da política, são as chaves para os recordes de aprovação nas pesquisas. E são justamente esses os dois aspectos que diferenciam o governo de Dilma do de Lula. E é com a apresentação dessas diferenças que a cúpula do PT acredita ser possível contornar os fatores que prejudicam o desempenho nessa eleição municipal: o desgaste de material e o julgamento do mensalão.
Embora as pesquisas mostrem que o mensalão não tem tanta influência na hora de o eleitor escolher seu candidato, há dentro do PT quem acredite que os militantes ficaram amuados por causa do julgamento e das condenações em série. E nesta última semana de campanha, com os réus do PT em cena no Supremo Tribunal Federal (STF), é preciso animar esses militantes e tentar mostrar que o partido virou essa página. E a presença de Dilma no palanque hoje terá a tarefa de apresentar essa simbologia. A ideia é mostrar que o PT continua firme no que se refere às políticas sociais, mas está diferente no jeito de lidar com a política e com a economia.
Dentro do PT, há a sensação de que ao mudar a política econômica, trocar alguns ministros e não dar guarida ao grupo ligado ao ex-ministro da Casa Civil Jose Dirceu (ela afastou Sérgio Gabrielli da Petrobras), Dilma criou um escudo protetor à sua volta. Esse escudo faz com que ela atravesse esse momento com o frescor de quem acabou de sair do banho. Não é correto dizer que ela fez tudo o que fez já prevendo o julgamento do mensalão. Mas o fato é que as medidas adotadas na economia — inclua-se aí o plano de concessões de serviços públicos à iniciativa privada — e as mudanças na equipe funcionaram também para passar essa sensação de que “não temos nada a ver com aquele passado”.
Enquanto isso, no calor das ruas...
Não se sabe se essa sensação de diferença será percebida nesta última semana de campanha, ou ajudará a levar Fernando Haddad ao segundo turno em São Paulo, principal objetivo do PT esta semana. Ali, vale registrar, os poucos que disseram ao Datafolha não votarem no petista por causa do mensalão fazem falta neste momento. Daí, a necessidade de colocar Dilma no palanque e tentar buscar alguns desses eleitores que se afastaram.
Talvez a participação de Dilma tenha vindo tarde demais (Belo Horizonte o partido considera perdida para a gestão de Márcio Lacerda, do PSB, que é ligado a Aécio Neves, mas também aliado de Dilma e de Lula. A mesma sensação ocorre em Recife, onde o PT também não enxerga chances de vitória).
Mas é preciso levar em conta que a decisão de Dilma, de participar de forma mais efetiva apenas na última semana e em São Paulo, atendendo a um pedido de Lula, tem a ver com o fato de que a presidente considera imprescindível manter seu foco no governo e, afastada da campanha, segurar os aliados para o futuro. Ela tem dois anos inteiros antes de se apresentar novamente como candidata a presidente da República e não quer correr riscos de ver os aliados tomando outros rumos.
Nesse sentido, Dilma espera que o PT entenda sua posição neste primeiro turno da campanha. Ela sabe que, se o governo for mal e os aliados correrem léguas, talvez não sobre uma Dilma inteira, digo, com aprovação o suficiente para manter o PT no comando do governo federal por mais um mandato. Afinal, se o PT precisa de Dilma hoje para conquistar prefeituras, precisará mais ainda em 2014. E, desde os tempos antigos, quem vive de batalhas sabe que as cidadelas são importantes, mas acima delas está o reino inteiro, no caso, o Planalto.
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