SÃO PAULO - A maioria dos paulistanos rejeitaria, informa o Datafolha, candidatos a prefeito apoiados seja pela Igreja Católica, seja pela Igreja Universal. Trata-se de uma típica resposta de eleitorado evoluído, para o qual a religião tornou-se, e já faz tempo, um assunto privado.
Não foi sempre assim, obviamente. Desde que nasceram, as religiões apresentaram vocação holística. Para melhor governar as almas e a conduta do homem em relação ao divino, era providencial apoderar-se das estruturas de repressão e persuasão que hoje conhecemos como Estado.
Em plena democracia ateniense antiga, Sócrates foi condenado à morte, acusado de renegar o sistema de crenças vigente. Se a religião não era exatamente o poder, ela oferecia um acervo de respostas e de pessoas posicionadas para exercê-lo.
Na famosa sentença de Jesus - "Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus"-, lê-se também uma sábia tentativa de despistar os governantes romanos e judeus dessa inevitável vocação política dos movimentos religiosos da época. Da época ou de todos os tempos?
As religiões de hoje ativeram-se à esfera privada de moto próprio ou são mantidas nessa condição, a contragosto, pelo fato de a esfera política ter-se emancipado, na tradição ocidental, a partir do século 16?
Uma religião pode, em sua essência, abdicar da ambição hegemônica na sociedade sem arriscar-se a perder o seu caráter religioso? A trajetória do próprio Lutero, um dos pivôs daquele movimento civilizatório do Ocidente, é carregada de ambiguidades a esse respeito.
Deixamos a era da religião estatal, o que não ocorreu no islã. Mas não atingimos, e talvez nunca atingiremos, a era da religião radical do indivíduo, em sua relação direta e particular com o divino.
Talvez porque isso signifique, na prática, a morte da religião.
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