O GLOBO - 10/10
Dos quatro países que receberam socorro da Europa, a Irlanda é o que já consegue respirar sem ajuda de aparelhos. Não que os números estejam azuis: O PIB está estagnado, a taxa de desemprego é alta, consumo e investimentos estão em queda. Mas as exportações se seguraram, e o saldo comercial cresceu 18% este ano. Vendendo para o exterior, a indústria tem aumentado a produção.
O presidente irlandês, Michael Higgins, iniciou ontem visita ao Brasil com uma comitiva de empresários. As relações comerciais entre os dois países são de apenas US$ 900 milhões, mas os irlandeses tem superávit. Sua vinda é parte desse esforço de encontrar formas de sair da crise.
Não é a primeira vez que os irlandeses mostram essa tenacidade. Durante 20 anos eles fizeram um enorme esforço para derrubar a dívida pública, que havia chegado a 109% do PIB. Conseguiram reduzi-la a 25%, mantendo superávits primários altos. Tudo isso se perdeu na crise, porque para salvar seus bancos superencrencados o Tesouro endividou-se. Agora, começou do zero porque a dívida voltou a 106% e este ano crescerá ainda mais.
Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha. Um a um, os países precisaram de dinheiro para pagar as contas. Uma combinação de gastos já elevados e mais uma montanha de dinheiro despejada nos bancos explica, em resumo, o problema. Como não podem desvalorizar a moeda, a única saída é ganhar produtividade e conquistar mercado internacional. Assim as exportações crescem e compensam a queda do consumo interno.
É o que está acontecendo na Irlanda. No segundo trimestre, a produção industrial cresceu 4,6% sobre o primeiro, enquanto a agricultura e o setor de serviços caíram 5,5%. O PIB ficou estagnado, mas a indústria e as exportações evitaram que ele ficasse vermelho.
O saldo comercial irlandês cresceu 18% no primeiro semestre. Em 2007, a Irlanda teve 25 bilhões de euros em superávit. Em 2011, o saldo foi positivo em 43 bilhões de euros. As importações caíram muito, porque o país está em crise, mas as exportações se seguraram. Um dos ativos da Irlanda é a indústria química forte, e ela está conseguindo exportar mais.
— A Irlanda está novamente fazendo o dever de casa e tem produtos para oferecer ao mundo. É diferente do que acontece em Portugal, que, a propósito, também tem se esforçado. O dinamismo da economia irlandesa é maior e isso vai ajudar a atenuar os efeitos da crise, disse a economista Monica de Bolle, da Galanto Consultoria.
As exportações foram 60% de produtos químicos, que somaram 32 bilhões de euros de janeiro a julho. Eles foram parar em mercados competitivos, como o americano. Para lá, a indústria química irlandesa exportou 9 bilhões de euros. Produtos médicos e farmacêuticos foram quase 30% das exportações.
Para efeito de comparação, durante todo o ano de 2011 o Brasil exportou 10 bilhões de euros em produtos químicos e de farmácia. Mas importou 32 bilhões de euros. O déficit na nossa balança nessa área é forte.
A Irlanda aproveitou a entrada na zona do euro para fazer investimentos. Mas, como outros países, se animou com a bolha imobiliária, que estourou em 2008 e quebrou os bancos. O governo teve que socorrer o sistema financeiro em 2009. Foram três anos seguidos de contração do PIB, que chegou a cair 7%. No ano passado, houve crescimento magro, de 0,7%, e o FMI estima 0,5% este ano.
Ainda falta muito para a Irlanda sair da crise. A taxa de desemprego é elevada e há mais de um ano ronda os 15%. Mas o custo do trabalho tem caído e as empresas têm conseguido ganhar competitividade. Na Grécia, esse círculo virtuoso está bem longe da vista, como pôde ver de perto ontem a chanceler alemã, Angela Merkel.
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