quarta-feira, outubro 10, 2012

Crescimento medíocre - JOSÉ MÁRCIO CAMARGO


O Estado de S.Paulo - 10/10



Após um ano de políticas expansionistas, a taxa de crescimento da economia brasileira insiste em decepcionar. Enquanto, em 2011, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,7%, a expectativa para 2012 é de minguado 1,4%. Apesar da forte desaceleração, a taxa de inflação caiu de 7,5% ao ano, em setembro de 2011, para 5,3% ao ano, em setembro de 2012, bem acima do centro do intervalo de metas para a inflação (4,5%). E as expectativas para a inflação em 2013 permanecem teimosamente elevadas.

Com esses números, o Brasil tem um dos piores trade-offs entre inflação e crescimento no mundo emergente. As incertezas geradas pela crise europeia e o baixo crescimento do mundo desenvolvido não explicam o fraco desempenho relativo do Brasil, se comparado a seus pares.

Depois de cinco trimestres de queda, a indústria reagiu no 3.º trimestre, mas o setor produtor de bens de capital cresceu anêmico 0,3%, sinalizando fraqueza do investimento. Esses resultados surpreenderam muitos analistas. Os incentivos estão demorando a ter os efeitos esperados, principalmente no que se refere ao investimento, e a queda na taxa de inflação foi muito menor do que se poderia esperar para uma economia crescendo supostamente abaixo de seu potencial, que muitos estimam estar próximo de 4% ao ano, por dois anos consecutivos.

Um candidato "natural" a justificar esse comportamento é que o potencial de crescimento do País seja menor do que os analistas estimam. E muitos são os sintomas que apontam nessa direção. Primeiro, a baixa e declinante taxa de investimento, apesar de as taxas de juros dos programas do BNDES estarem negativas, em termos reais. Segundo, os gargalos da infraestrutura, que encarecem os custos de produção, são visíveis a olho nu: estradas mal conservadas e engarrafadas, aeroportos superlotados, telecomunicações precárias, trânsito caótico, etc.

Terceiro, com a taxa de desemprego já muito baixa e a taxa de crescimento da População Economicamente Ativa (PEA) em 0,7% ao ano, apesar da medíocre taxa de crescimento do produto e da queda na geração de empregos, o desemprego continua caindo. Com isso, os salários reais crescem sistematicamente acima da produtividade do trabalho, aumentando o custo real do trabalho. Sem ociosidade no mercado de trabalho, seria necessário um forte aumento da produtividade para sustentar uma taxa de crescimento próxima de 4% ao ano.

Porém, com a baixa qualidade do sistema educacional público e legislação trabalhista que incentiva relações de trabalho de curto prazo e pouco investimento em treinamento e qualificação, a produtividade do trabalho no Brasil cresce pouco há décadas, e está em queda desde 2007.

Para completar, a capacidade ociosa nos países desenvolvidos e asiáticos impossibilita o repasse dos aumentos dos custos do trabalho e da infraestrutura aos preços dos bens industriais. Sem competidores internacionais, os aumentos de custos do setor serviços são repassados a seus preços, o que valoriza a taxa de câmbio real, reduz as taxas de lucro da indústria, deteriora as expectativas, desincentiva os investimentos e diminui o potencial de crescimento da economia.

Como, em razão do cenário externo, as pressões inflacionárias devem permanecer restritas aos bens não comerciáveis, mais incentivos à demanda vão intensificar as pressões sobre o mercado de trabalho e a infraestrutura, que já estão trabalhando além de sua capacidade. Afinal, aumento da demanda implica estradas mais congestionadas, aeroportos mais cheios, telecomunicação mais precária, trânsito mais caótico, menor desemprego, maiores salários sem ganhos de produtividade e preços dos serviços mais altos. Enfim, aumento do custo de produzir no País, valorização real da moeda, redução da competitividade, menos investimento e menor potencial de crescimento da indústria. E sem aumentar a competitividade do setor industrial, o crescimento vai permanecer medíocre.

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