FOLHA DE SP - 28/09
E o grande problema com as câmeras, como observou o filósofo Emrys Westacott, é que elas funcionam. Sua mágica é que fazem com que a obrigação coletiva (o cumprimento de regras) e o interesse próprio (não ser apanhado), que muitas vezes andam separados, coincidam. É só acionar uma dessas engenhocas que as pessoas começam a se comportar melhor. Como ser contrário a isso?
Essa é uma missão para Immanuel Kant. Para o filósofo prussiano, um homem pode fazer a coisa certa ou por temer a sanção ou por reconhecer a racionalidade por trás da norma. Só na segunda hipótese ele age de forma moral e livre. É só aí que ele se constitui como sujeito autônomo.
Avançando um pouco mais no raciocínio kantiano-westacottiano, as câmeras, ao jogar o interesse para o mesmo lado da obrigação, na verdade nos privam da liberdade de fazer o que é certo, isto é, impedem nosso crescimento como agentes morais.
O dilema não tem solução, ou melhor, a resposta muda conforme o contexto. A maioria de nós tende a ser favorável à colocação de câmeras em lugares públicos de grande afluxo de pessoas, como aeroportos e prisões, já que elas melhoram bastante a segurança. Mas não aderimos tão entusiasmadamente a elas em situações mais privadas, como o quarto conjugal ou, de forma menos dramática, o ambiente de trabalho. E a razão, creio, é que prezamos a ideia de aprimoramento moral. Eu pelo menos, apesar de minhas inclinações consequencialistas, hesitaria em matricular meus filhos numa escola sob vigilância perpétua.
Nenhum comentário:
Postar um comentário