RIO DE JANEIRO - Uma das palavras que mais se leem hoje nos segundos cadernos é "inédito". A cantora X terá sua obra completa lançada numa caixa com 48 CDs -um deles, composto de gravações inéditas. O escritor Y, já fartamente editado, anuncia um novo livro, de inéditos -seja o que for isto. A celebridade Z, que não sai da mídia, dará entrevista ao Jô, prometendo revelações inéditas.
Se não for inédito, não interessa. Tudo o que a cantora, o escritor e a celebridade cantaram, escreveram ou fizeram no passado, por mais explosivo e ribombante, é isso aí -passado. Numa época em que, graças à tecnologia, todo o glorioso passado do cinema, da música popular e até da literatura está disponível, de graça e pronto para ser redescoberto, não se sabe de onde vem essa urgência por inéditos.
Não pode ser do público -que, na sua maioria, ainda não assimilou nem sombra da obra passada dos artistas mortos ou vivos. Donde só pode ser dos jornalistas, que encontraram uma saída fácil para entrevistar personalidades: "Tem algum (conto, canção, fofoca) inédito?". E, se você disser que não, podem virar-lhe as costas e seguir alhures, em busca de inéditos alheios.
Faz lembrar a pergunta que se é obrigado a responder em meio a um livro, disco, filme, peça ou show que se está acabando de lançar: "Qual é o seu próximo projeto?". Ou seja, você acaba de botar na praça um produto que ainda não foi sequer divulgado, quanto mais lido, escutado, visto, assistido ou cheirado, e já querem saber o que vem a seguir. Sempre a busca do inédito.
Desconfie da palavra inédito. Quase sempre serve apenas para maquiar um produto já editado, mas que estava fora de circulação há algum tempo -ou revela a ignorância de quem considera inédito tudo que não conhece e para quem qualquer banalidade é uma pepita dourada.
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