FOLHA DE S. PAULO - 21/09
Chega de respostas ensaiadas. Finalmente alguém se dispôs a amassar a roupa dos candidatos
"O senhor sempre foi considerado um bom administrador...". Deveria ter evitado essa, na sabatina da Folha com Serra na última sexta? O candidato diante de mim, um dos seres mais vaidosos da face da terra, encheu o peito como se dissesse, "Está vendo só? Não sou eu que estou dizendo, é a Folha de S.Paulo". Imediatamente, o Twitter saiu dando bicadas nesta humilde datilógrafa: "Filha disto e daquilo!" "Vendida, você e o seu jornal!"
Sou obrigada a confessar que tenho um hábito horroroso, costumo concordar com a ombudsman em tudo o que ela diz, mesmo nas vezes em que tece críticas ferozes contra mim. Talvez o fato de ela ter sido minha editora por mais de dez anos em estado de harmonia absoluta tenha algo a ver com isso.
Pois, no último domingo, a ombudsman, ou seja, a voz do leitor dentro da Redação, afirmou que faltou isenção à Folha na hora de inquirir o candidato Celso Russomanno, na série de sabatinas que o jornal promoveu com os prefeituráveis de São Paulo. Disse ela que enquanto José Serra e Fernando Haddad foram tratados com respeito, Russomanno "sofreu um tiroteio". O próprio candidato alegou ter passado por "um massacre".
Ora, ora, ora. Como participei de todas as sabatinas, gostaria de expor meu ponto de vista. Fui abordada por um jovem de Campo Grande (se bem me lembro) na saída da última sabatina (com Serra). O rapaz me contou que assistira a todas que fizemos (Chalita, Soninha, Russomanno, Haddad e Serra) e queria saber: "Por que vocês, a senhora em especial, pegaram tão pesado com todos e só aliviaram para Serra e Haddad?" Respondi que com Haddad talvez eu tivesse falhado na minha missão.
Quem sabe a falta de repertório, o bom-mocismo e o plano de governo cheio de generalidades não tenham tornado a conversa insípida? Sua colocação nas pesquisas não evidencia esse desinteresse? Já com Serra, a troca foi vigorosa, tanto é que ele mal me cumprimentou ao sair.
Mas há, sim, candidatos de gamas diversas nesta eleição. Vão dos populistas clássicos aos bonecos de posto de gasolina, que existem só para entreter a molecada. E é impossível manter o mesmo tom entre esferas tão distintas. O esforço pela imparcialidade, aliás, foi o que gerou o problema. Foi ele que produziu debates engessados nos formatos de hoje -com perguntas previsíveis que candidatos são treinados por especialistas a responder. A Folha quebrou o padrão.
É claro que é um risco colocar a Barbara Gancia, não exatamente especialista em política, para debater com Russomanno. Mas a vida real não é uma sabatina ordenada.
E se Russomanno fica cabreiro porque não o deixei enveredar pelo caminho do Maluf, que dá respostas quilométricas para perguntas que não foram formuladas em vez de responder aquelas que foram, então me desculpe, mas ele não deveria ter saído candidato a prefeito.
Não sei por que a Folha me convidou, ninguém me informou até agora. Mas minha comentada (eufemismo para criticada) presença na sabatina (Haddad e Serra ameaçaram não vir depois do show com Russomanno) serviu para sinalizar que o ouvido do eleitor não é penico.
Chega de respostas prontas, abaixo o "debate Doriana", com cara de família feliz. A Folha está disposta a ver o linho da roupa dos candidatos ser amassado. Qualificar de "comentário tucano" a assertiva de que o Serra é conhecido bom administrador é de uma infantilidade sem fim.
Eu não estava ali para "ganhar" ou "perder" do Serra, mas para conhecê-lo (infelizmente) melhor. Sendo assim, parabéns à Folha por propor, para variar, um jeito novo de fazer.
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