CORREIO BRAZILIENSE - 21/09
A eleição de São Paulo extrapolou os limites da cidade, envolvendo todos os partidos da base aliada da presidente Dilma Rousseff e da oposição. Essa inundação está clara nas notas divulgadas nos últimos dias. O
PSDB deu o primeiro lance, cobrando do ex-presidente Lula explicações a respeito do noticiário sobre supostas declarações do publicitário Marcos Valério. Ontem, mais de 24 horas depois de lançada a nota das oposições, os partidos da base de Dilma saíram em defesa de Lula, se referindo à cobrança da oposição como uma tentativa de “barrar e reverter o processo de mudanças iniciado por Lula, que colocou o Brasil na rota do desenvolvimento com distribuição de renda”.
Primeiro, aos fatos: Marcos Valério não veio a público dizer que Lula sabia de tudo e, para completar, seus advogados estão roucos de tanto dizer que o cliente não deu essas declarações. Em segundo lugar, os oposicionistas também, em nenhum momento, reclamaram dos avanços sociais que o país obteve no governo Lula. Querem apenas que o ex-presidente fale sobre esse julgamento do mensalão, que tanto abala o PT e envolve o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu, que foi peça chave na primeira campanha em que Lula saiu vitorioso.
A oposição não pediu nada demais. Apenas foi no embalo, criando um barulho sobre Lula — que sempre é bom registrar, não é réu no processo do mensalão. O PT, por sua vez, também tenta tirar seu proveito da situação. O partido de Lula não tira os olhos dos índices de Fernando Haddad em São Paulo. Coincidentemente, solta uma nota em defesa de Lula justamente no dia em que as pesquisas apontaram Haddad em ligeira queda e Serra estancando a sangria que o atingiu em agosto.
Diante desse quadro, há dentro do próprio PT quem diga que a nota tem mais o sentido de tirar Haddad da “estacionada” de seus índices na terceira posição e evitar que dê certo a estratégia do PSDB de vincular o candidato petista aos réus do mensalão, como José Dirceu. Isso para os petistas de São Paulo é muito mais importante hoje do que defender Lula. Diante disso, a torcida do PT com a nota divulgada ontem é a de que os avanços sociais obtidos no governo Lula pesem mais que o julgamento do mensalão na hora em que o eleitor paulistano escolher o seu candidato a prefeito.
Em tempo: muitos, ontem, diziam que se a nota tivesse um sentido eleitoral não estaria assinada pelo presidente do PMDB, Valdir Raupp. Ora, o PMDB jamais deixaria de atender um pedido que estivesse como objetivo declarado defender Lula. Mas, em conversas reservadas, até os peemedebistas dizem que o objetivo velado é alavancar Haddad em São Paulo. Afinal, se o ex-ministro de Lula e Dilma não estiver no segundo turno em São Paulo, o PT local não cobrará de Rui Falcão e sim do ex-presidente, que tirou todos de cena para deixar Haddad brilhar na avenida do PT. Faltou combinar com o eleitor. E, é justamente isso que a nota divulgada ontem pretende fazer agora.
Por falar em Lula…
A reunião que o ex-presidente marcou para 10 de outubro em Brasília será o primeiro grande encontro em que o partido pretende discutir não só eleições como também o mensalão. Já não era sem tempo o próprio partido avaliar o que ocorreu ali.
Enquanto isso, em Brasília…
Dia desses de muito calor na cidade, o ex-subchefe da Casa Civil para Assuntos Parlamentares Waldomiro Diniz — você se lembra dele, caro leitor? — estava numa confeitaria da cidade. Esbelto, porém forte, de bermudas, óculos escuros, semblante tranquilo. Para quem não se lembra, Diniz era o chefe da Assuntos Parlamentares nos tempos em que José Dirceu era o articulador político do governo Lula. Perdeu o posto depois de ser flagrado numa conversa de 2002 (portanto, antes do governo Lula) pedindo propina ao contraventor Carlos Cachoeira. Como é a vida… Waldomiro hoje aparenta tranquilidade, apesar dos processos. Já seu antigo interlocutor Cachoeira… Bem… Mas essa é outra história.
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