sexta-feira, setembro 21, 2012

"Debate Doriana" morreu - BARBARA GANCIA


FOLHA DE S. PAULO - 21/09


Chega de respostas ensaiadas. Finalmente alguém se dispôs a amassar a roupa dos candidatos



"O senhor sempre foi considera­do um bom administra­dor...". Deveria ter evitado essa, na sabatina da Folha com Serra na última sexta? O candidato diante de mim, um dos seres mais vaidosos da face da terra, encheu o peito como se dissesse, "Está vendo só? Não sou eu que estou dizendo, é a Folha de S.Paulo". Imediatamente, o Twitter saiu dando bicadas nesta humilde datilógrafa: "Filha disto e daquilo!" "Vendida, você e o seu jornal!"

Sou obrigada a confessar que te­nho um hábito horroroso, costumo concordar com a ombudsman em tudo o que ela diz, mesmo nas vezes em que tece críticas ferozes contra mim. Talvez o fato de ela ter sido minha editora por mais de dez anos em estado de harmonia absoluta tenha algo a ver com isso.

Pois, no último domingo, a om­budsman, ou seja, a voz do leitor dentro da Redação, afirmou que faltou isenção à Folha na hora de inquirir o candidato Celso Russomanno, na série de sabatinas que o jornal promoveu com os prefeitu­ráveis de São Paulo. Disse ela que enquanto José Serra e Fernando Haddad foram tratados com res­peito, Russomanno "sofreu um tiro­teio". O próprio candidato alegou ter passado por "um massacre".

Ora, ora, ora. Como participei de todas as sabatinas, gostaria de ex­por meu ponto de vista. Fui abor­dada por um jovem de Campo Grande (se bem me lembro) na saí­da da última sabatina (com Serra). O rapaz me contou que assistira a todas que fizemos (Chalita, Soni­nha, Russomanno, Haddad e Serra) e queria saber: "Por que vocês, a se­nhora em especial, pegaram tão pe­sado com todos e só aliviaram para Serra e Haddad?" Respondi que com Haddad talvez eu tivesse fa­lhado na minha missão.

Quem sabe a falta de repertório, o bom-mocis­mo e o plano de governo cheio de generalidades não tenham tornado a conversa insípida? Sua colocação nas pesquisas não evidencia esse desinteresse? Já com Serra, a troca foi vigorosa, tanto é que ele mal me cumprimentou ao sair.

Mas há, sim, candidatos de gamas diversas nesta eleição. Vão dos po­pulistas clássicos aos bonecos de posto de gasolina, que existem só para entreter a molecada. E é im­possível manter o mesmo tom en­tre esferas tão distintas. O esforço pela imparcialidade, aliás, foi o que gerou o problema. Foi ele que pro­duziu debates engessados nos for­matos de hoje -com perguntas pre­visíveis que candidatos são treina­dos por especialistas a responder. A Folha quebrou o padrão.

É claro que é um risco colocar a Barbara Gancia, não exatamente especialista em política, para deba­ter com Russomanno. Mas a vida real não é uma sabatina ordenada.

E se Russomanno fica cabreiro por­que não o deixei enveredar pelo ca­minho do Maluf, que dá respostas quilométricas para perguntas que não foram formuladas em vez de responder aquelas que foram, en­tão me desculpe, mas ele não deve­ria ter saído candidato a prefeito.

Não sei por que a Folha me convi­dou, ninguém me informou até agora. Mas minha comentada (eu­femismo para criticada) presença na sabatina (Haddad e Serra ameaçaram não vir depois do show com Russomanno) serviu para sinalizar que o ouvido do eleitor não é peni­co.

Chega de respostas prontas, abaixo o "debate Doriana", com ca­ra de família feliz. A Folha está disposta a ver o linho da roupa dos candidatos ser amassado. Qualificar de "comentário tuca­no" a assertiva de que o Serra é co­nhecido bom administrador é de uma infantilidade sem fim.

Eu não estava ali para "ganhar" ou "per­der" do Serra, mas para conhecê-lo (infelizmente) melhor. Sendo as­sim, parabéns à Folha por propor, para variar, um jeito novo de fazer.

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