Com quase um mês de julgamento histórico dos réus do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF), uma constatação segura é que sete anos de espera, desde a revelação do escândalo, ajudaram a desbotar a memória coletiva de episódios retratados pela mídia e já constantes em livros de história. O país acompanhou com espanto, indignação e críticas bem-humoradas uma série de notícias. O olhar atento e crítico da imprensa não deixou escapar situações hilariantes, algumas antológicas.
O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares vaticinou que o caso viraria piada de salão. Ele só não previu que as tais Piadas de Mensalão — também nome de um quadro do programa humorístico global Casseta e Planeta à época — levariam a uma crítica legítima e robusta contra a corrupção na política nacional. Por seu lado, não dá pra não rir de novo ao rever em reportagens e vídeos de 2005 personagens como o ex-deputado Roberto Jefferson.
O homem-bomba que delatou e batizou o esquema depôs com olho roxo, cantou Nervos de Aço, de Lupicínio Rodrigues, em entrevistas e imortalizou bordões como “Zé, sai daí”, endereçado ao algoz José Dirceu, ex-“primeiro-ministro” do governo Lula. Os então 40 réus, licença poética digna de roteirista de tevê, serviram ainda para Jefferson apontar um Ali Babá.
Apontado como chefe da quadrilha pela Procuradoria Geral da República (PGR), Dirceu também divertiu a nação ao cometer impagável ato falho, que arrancou sonoras gargalhadas no Senado, ao dizer que era “inocêncio”, em vez de inocente, talvez com a cabeça no líder pernambucano do PL, Inocêncio de Oliveira. A mesma audiência desabou em risos ao ouvir do poderoso petista que sempre foi “pessoa humilde”. Dias depois, nos corredores do Congresso, ele levaria bengaladas de um aposentado indignado.
Nessa comédia de situações surgiram os dólares na cueca, a dança da pizza, os documentos perdidos na batcaverna (cofre de papéis da CPI), o sugestivo nome de Jacinto Lamas, ex-tesoureiro do PL, o Land Rover presenteado a Silvinho do PT, as rinhas de galo de Duda Mendonça e a afirmação do líder ruralista Ernesto Salvo de que “nunca vi mais careca”, em relação ao operador Marcos Valério, seu conterrâneo.
O hilário das últimas semanas ficou por conta da citação a Chico Buarque pelo procurador-geral, a menção à vilã da novela das oito pela defesa, a insistência do PT em chamar o processo de Ação Penal 470, o cochilo e o vocabulário prolixo de ministros do STF. É tentar rir para não chorar.
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