Nem as Farc nem o governo podem vencer pelas armas na Colômbia; restou, então, apenas a negociação
As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) perderam a guerra, se por guerra se entender o projeto de derrotar o capitalismo impiedoso. Esse era o objetivo original do grupo, que foi "um dia, comunista com causa, mas, hoje, é basicamente narcotraficante", conforme a precisa definição de Miguel Ángel Bastenier, colunista de "El País".
Que a guerra foi perdida deixa claro Adam Isacson, pesquisador para Política Regional de Segurança do Washington Office for Latin America, centro de observação sobre a região: "As Farc estão mais fracas do que há dez anos e não têm esperança de tomar o poder".
Eis porque "seus líderes podem genuinamente querer negociar", fecha Isacson.
Se a guerra está perdida para as Farc, por que o seu principal inimigo, o governo colombiano, também parece genuinamente interessado em negociar?
Simples: tampouco o governo pode ganhar a guerra. Ou, como prefere Isacson, "o recente aumento na atividade das Farc pode ter convencido o governo de que a vitória não é iminente".
Criou-se o que o pesquisador chama de "impasse que machuca", que só se rompe pela negociação.
A guerrilha vai para a negociação em situação bem pior do que a da mais recente tentativa, a do presidente Andrés Pastrana (1998/2002). Perdeu 18 de seus líderes nos últimos dois anos; de presença em todos os 32 departamentos no seu auge, está confinada agora ao sul e a algumas zonas fronteiriças; dos 16 mil homens de que dispunha em 2001, restam 9.000.
Perdeu o respaldo de Hugo Chávez, o presidente venezuelano. De defensor do que chamava de "projeto político" do grupo, Chávez pragmaticamente preferiu as vantagens óbvias de relações normais com a vizinha Colômbia ao apoio a uma luta que ele próprio já declarou perdida.
O enfraquecimento do grupo fica evidente também no fato de ter aceitado negociar sem impor uma pré-condição histórica, a de que as conversações se dessem em território colombiano em uma zona desmilitarizada, como ocorreu em 2002, quando Pastrana cedeu às Farc uma área igual à da Suíça.
"Utilizaram a zona desmilitarizada como uma plataforma para lançar operações de grande envergadura", escreve Román Ortiz, analista de assuntos de segurança.
Agora, o diálogo e a guerra serão simultâneos.
O ganho que o presidente Juan Manuel Santos pode obter com a paz é óbvio.
Começa já: 52% dos colombianos são favoráveis a uma negociação, conforme a mais recente pesquisa divulgada. Desnecessário alongar-se nesse ponto.
O que as Farc podem ganhar? Como não se conhecem suas condições, é cedo para especular.
Um ponto, entretanto, parece especialmente complicado: se deixarem as armas, deixarão também o narcotráfico?
É no mínimo improvável, se se levar em conta o volume do negócio: US$ 500 milhões a US$ 600 milhões, segundo cálculos do governo norte-americano, que, em relatório de 2009, dizia que 60% das exportações de cocaína para os EUA passavam pelas Farc.
Se a guerra ideológica está perdida, a, digamos, comercial não está.
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