CORREIO BRAZILIENSE - 30/08
“Dois partidos já têm candidato declarado a presidente da República em 2014: o PT e o PMDB. Dilma Rousseff e Michel Temer estão juntos, num trabalho aprovado pela população, não existe isso de sair para outro projeto. Se fosse para fazer isso, já teria que ter saído. Não há como chegar mais à frente e dar tchau”. O raciocínio é do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), candidato a presidente da Câmara no ano que vem.
Embora a Câmara esteja em recesso branco esses dias – apenas o Senado trabalhou a pleno vapor esta semana - , Alves não deixou de vir a Brasília, onde cuida da pré-campanha e de obras para seu estado. Ontem, por exemplo, foi à presidente Dilma Rousseff agradecer a ordem de serviço para um projeto de irrigação. Depois do encontro, deu essa declaração à coluna. O entusiasmo de Henrique Eduardo Alves não se repete entre todos os petistas. “É uma boa ideia. É uma probabilidade, mas é cedo para discutirmos isso. Temos que atravessar 2013”, diz o deputado André Vargas (PT-PR).
Por falar em atravessar...
A primeira parte dessa travessia é separar os réus do mensalão do futuro do partido. Embora o julgamento esteja apenas no começo e, ainda, haja muitos políticos a serem julgados, inclusive José Dirceu, o PT traça suas estratégias esperando o pior cenário. Especialmente, depois da condenação de João Paulo Cunha (PT-SP), ontem, pelo Supremo Tribunal Federal. Enquanto os réus políticos, aqueles que formavam o antigo núcleo do PT, tratam de colocar a culpa na mídia, na falta de um trabalho do governo em favor deles e por aí vai (como inclusive dissemos aqui ontem), outro núcleo partidário ganha corpo no sentido de deixar claro que vão os anéis, mas ficam os dedos. “Nem o PT, nem o governo Lula estão sob julgamento. Quem está sob julgamento tem CPF e não CNPJ”, afirma André Vargas à coluna, tratando de blindar o projeto partidário.
A frase de Vargas é emblemática. Evidencia que o partido não hesitará se seus antigos líderes forem jogados aos leões. A ordem é tocar a vida e manter o projeto. É claro que haverá aquela solidariedade, algo do tipo “meus sentimentos”, “conte comigo para qualquer coisa”, mas a visão está clara: os petistas querem virar a página e colocar na vitrine novos nomes. De antigo, só Lula, que segue à frente do PT como principal garoto propaganda para mostrar que seu governo foi muito além do mensalão. Na visão de alguns, para ganhar mais credibilidade, Lula precisa deixar de lado o discurso de que o escândalo conhecido como mensalão não passou de invenção da mídia. Afinal, até os petistas já têm claro que, se não tivesse acontecido nada, ninguém estaria hoje condenado.
Por falar em Lula...
Sua atuação enquanto garoto propaganda deixa a desejar. Geraldo Júlio, o candidato do PSB à prefeitura do Recife, ganha terreno a olhos vistos, segundo as últimas pesquisas, ao ponto de empatar com o petista Humberto Costa. Quem perde densidade nessa corrida é o candidato do DEM, Mendonça Filho. A situação na capital pernambucana corre o risco de se transformar em todos contra o PT. Em compensação, em São Paulo, quem cresce é Fernando Haddad, numa disputa que promete se transformar em todos contra o tucano José Serra. Os resultados dessas duas eleições, e a de Belo Horizonte, são as que mais chamam a atenção no cenário nacional. Isso, porque também são ingredientes da travessia de 2013.
Por falar em 2013...
Depois do julgamento do mensalão e das eleições municipais, o que mais preocupa os petistas é a economia. Ontem, Dilma comemorou a redução da taxa Selic pelo Copom. Falta, entretanto, destravar os investimentos e segurar a inflação. Essa é a grande travessia que independe do julgamento ou do resultado eleitoral. Afinal, o novo PT acredita que, se Dilma mantiver a população ao seu lado, a continuidade do CNPJ partidário como inquilino do Planalto estará garantida. Ainda que alguns estejam com o CPF marcado pelo mensalão.
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