Vivemos num país onde, quando existem sinais de mutreta, é quase certo que mutreta houve
Cara de mocinho, cara de bandido... O que é mais emocionante do que uma novela que mexe com as convicções e sentimentos da plateia e ninguém envolvido na produção sabe como vai acabar? É o que está acontecendo com um dramático e fascinante programa da TV-Justiça e da Globo News.
Se fosse na TV comum, não faltariam anunciantes nem audiência. Como são as coisas, o horário, no começo da tarde, inibe a turma que tem de trabalhar. Inevitável, mas é pena: uma grande parte da população não pode acompanhar, ao vivo e sem script, o julgamento do mensalão.
Como ninguém ignora e muita gente já esqueceu — o que pode parecer uma contradição em termos, mas não é — trata-se de um dos mais significativos episódios escandalosos do Governo Lula: a compra de votos de parlamentares por um grupo associado ao Palácio do Planalto. O processo não inclui o chefe do Governo, mas caíram na rede da Polícia Federal pelo menos alguns personagens que entravam no gabinete do então presidente sem precisar pedir audiência.
Nos primeiros capítulos da novela, o papel de mocinho — ou, na expressão técnica, relator — foi desempenhado pelo ministro Joaquim Barbosa. Ele teve fôlego, sem abrir mão da ênfase e de uma certa dose de indignação quando necessário, para descrever todos os episódios que provam a existência de uma conspiração montada para concentrar no Planalto o controle de tudo que se passava no Congresso, em nível muito acima do que determina e permite a Constituição. Barbosa falou muito, mas, para a arquibancada, falou bem. E, baseado em laudo da Polícia Federal, votou pela condenação do deputado João Paulo Cunha, acusado de aceitar suborno quando presidiu a Câmara dos Deputados.
O segundo ministro a votar, Ricardo Lewan-dowski, no papel de revisor, opinou pela inocência do deputado. A mídia em geral caiu de pau nele. Gostaria de acrescentar minha modesta cacetada, e aqui o faço, mas é preciso também lembrar que tribunais colegiados como o STF têm essa estrutura exatamente para permitir a divergência nas decisões do mais alto tribunal do país. E ganha a interpretação dos fatos que tiver mais votos. Ainda não se descobriu, em país algum, melhor sistema.
Toda a turma da arquibancada que aplaudiu o voto de Barbosa tem direito a fortes esperanças de que o seu será o voto da maioria. Quanto mais não seja porque, como dizem os pessimistas, vivemos num país onde, quando existem sinais de mutreta, é quase certo que mutreta houve.
Por enquanto, a plateia parece ter feito do relator o seu herói, e do revisor, o vilão da novela. Há exagero nisso, mas não me parece que ela tenha errado: como todo mudo sabe, a plateia costuma ter razão. E, pela televisão, com todo o respeito, o relator tem mais cara de mocinho do que o revisor.
Cara de mocinho, cara de bandido... O que é mais emocionante do que uma novela que mexe com as convicções e sentimentos da plateia e ninguém envolvido na produção sabe como vai acabar? É o que está acontecendo com um dramático e fascinante programa da TV-Justiça e da Globo News.
Se fosse na TV comum, não faltariam anunciantes nem audiência. Como são as coisas, o horário, no começo da tarde, inibe a turma que tem de trabalhar. Inevitável, mas é pena: uma grande parte da população não pode acompanhar, ao vivo e sem script, o julgamento do mensalão.
Como ninguém ignora e muita gente já esqueceu — o que pode parecer uma contradição em termos, mas não é — trata-se de um dos mais significativos episódios escandalosos do Governo Lula: a compra de votos de parlamentares por um grupo associado ao Palácio do Planalto. O processo não inclui o chefe do Governo, mas caíram na rede da Polícia Federal pelo menos alguns personagens que entravam no gabinete do então presidente sem precisar pedir audiência.
Nos primeiros capítulos da novela, o papel de mocinho — ou, na expressão técnica, relator — foi desempenhado pelo ministro Joaquim Barbosa. Ele teve fôlego, sem abrir mão da ênfase e de uma certa dose de indignação quando necessário, para descrever todos os episódios que provam a existência de uma conspiração montada para concentrar no Planalto o controle de tudo que se passava no Congresso, em nível muito acima do que determina e permite a Constituição. Barbosa falou muito, mas, para a arquibancada, falou bem. E, baseado em laudo da Polícia Federal, votou pela condenação do deputado João Paulo Cunha, acusado de aceitar suborno quando presidiu a Câmara dos Deputados.
O segundo ministro a votar, Ricardo Lewan-dowski, no papel de revisor, opinou pela inocência do deputado. A mídia em geral caiu de pau nele. Gostaria de acrescentar minha modesta cacetada, e aqui o faço, mas é preciso também lembrar que tribunais colegiados como o STF têm essa estrutura exatamente para permitir a divergência nas decisões do mais alto tribunal do país. E ganha a interpretação dos fatos que tiver mais votos. Ainda não se descobriu, em país algum, melhor sistema.
Toda a turma da arquibancada que aplaudiu o voto de Barbosa tem direito a fortes esperanças de que o seu será o voto da maioria. Quanto mais não seja porque, como dizem os pessimistas, vivemos num país onde, quando existem sinais de mutreta, é quase certo que mutreta houve.
Por enquanto, a plateia parece ter feito do relator o seu herói, e do revisor, o vilão da novela. Há exagero nisso, mas não me parece que ela tenha errado: como todo mudo sabe, a plateia costuma ter razão. E, pela televisão, com todo o respeito, o relator tem mais cara de mocinho do que o revisor.
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