terça-feira, agosto 28, 2012

Como é mesmo? - JANIO DE FREITAS

FOLHA DE SP - 28/08


Ministros do STF tropeçam nas palavras e brigam com as frases quando precisam ler um trecho


Iniciada a votação que definirá o destino dos réus do mensalão, já os dois primeiros ministros a se manifestarem, entre os pronunciamentos do relator e do revisor, demonstraram a dificuldade dos magistrados em perceber um dos principais aspectos desse julgamento.

Ainda que não haja indicação da audiência das sessões do Supremo Tribunal Federal, o interesse público pelo julgamento do mensalão é inquestionável. Constituiu, por isso, uma oportunidade incomum de aprendizado cívico, não importa em que medida, para uma parte dessa gente tão ignorante como são os brasileiros a respeito de suas instituições e, em particular, do Judiciário.

A confusão inesgotável que foram os votos dos ministros Rosa Weber e Luiz Fux, durante as duas horas e meia mais longas entre todas as horas de 15 sessões desse julgamento, foi mais do que exaustiva. Foi de afastar, para sempre, todo espectador que não tivesse o dever funcional de submeter-se à exasperação.

Os dois não falaram nem para os outros "especialistas" que são os seus colegas: mesmo o presidente do STF, Ayres Britto, de cuja inteligência e conhecimentos jurídicos ninguém duvidaria, precisou de esclarecimentos adicionais para anotar o que, afinal, seriam os votos.

Pode ser que haja alguma razão cabalística para que alguns ministros tenham o voto por escrito, mas, em vez de lê-lo, passem a descrever durante horas, pelo modo mais tortuoso, o que abordam em suas redações. Não há de ser pela dimensão dos votos, porque sua prolixidade oral não perde para a dos textos. Mas, é verdade, os textos provocam mais um problema.

Esses mesmos ministros não sabem ler o que escreveram com suas equipes. Tropeçam nas palavras e brigam com as frases quando precisam ler um trecho. Bem que podiam ensaiar um pouco.

E os seguintes a pronunciar-se talvez pudessem fazê-lo de maneira inteligível pelos cidadãos que, interessados, ainda se disponham a outra tentativa de acompanhar o julgamento.

A OUTRA

O julgamento do mensalão sufocou a CPI do Cachoeira. O PT e o PSDB, e seus respectivos aliados, só podem estar muito agradecidos. Quanto maior parece a dimensão criminosa do assunto da CPI, menos os seus integrantes e dirigentes ativam os meios de que dispõem para investigações e inquirições.

Está agendado o depoimento de Luiz Antônio Pagot, ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes. É um dos que têm muito a dizer e, até agora, não recorreu à Justiça para silenciar. É um incômodo para as bancadas do PT e do PSDB na CPI.

O CRONISTA

Na torrente de louvações a Nelson Rodrigues, por seu centenário, uma exceção pode passar despercebida. Toma carona no admirável Tostão, que lembrou uma frase de Nelson, em sua opinião "o maior e mais politicamente incorreto cronista esportivo": "O pior cego é o míope. E pior que o míope é o que enxerga bem, mas não entende o que enxerga. Há pessoas, sobretudo jornalistas esportivos, que não têm inteligência visual".

Nelson Rodrigues era muito míope. Mas não usava óculos, que lhe pareciam capazes de torná-lo mais feio. Com isso, deixou uma dúvida: não entendia nada de futebol porque não via o jogo, e de fato não enxergava quase nada, ou não via o jogo porque não entendia mesmo? Nelson Rodrigues foi um cronista de futebol que nunca escreveu sobre um jogo de futebol. Fazia crônicas a pretexto do futebol.

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