O Brasil não deve esmorecer no esforço de estimular a economia e também deve evitar jogar na retranca
Nunca devem ser esquecidas as lições de 1937. A economia americana se recuperava da Grande Depressão. Com elevados investimentos públicos, a produção e o emprego aumentavam lentamente e parecia que, afinal, a produção iria voltar a crescer e superar a hecatombe do início dos anos 1930.
Foi então que "os homens da sensatez e da ponderação", segundo John Kenneth Galbraith em "A Era de Incerteza", começaram a agir no sentido da redução das despesas públicas e da rigorosa austeridade, para conter a inflação.
Rendendo-se a essas pressões, o governo conseguiu encaminhar o Orçamento na direção do equilíbrio. Mas, ao mesmo tempo, houve um novo colapso econômico, uma retração dentro da Depressão.
Dessa forma, quando a Segunda Guerra Mundial começou na Europa, em 1939, o índice de desemprego nos EUA era de 17% e atingia cerca de 9,5 milhões de pessoas.
Só o esforço de guerra acabou recuperando definitivamente a economia, porque o governo foi obrigado a elevar brutalmente seus gastos e a estimular os investimentos privados. Antes do fim de 1942, a economia americana vivia o pleno emprego e, em muitas regiões, já havia escassez de mão de obra.
A crise que começou em 2007 nos EUA não apresenta o mesmo grau destrutivo da Grande Depressão dos anos 1930. Sua solução, porém, vem exigindo igualmente a ação indutora dos governos. Ela se deu nos EUA e começa a se dar agora na UE.
Nos EUA, a ação governamental ocorreu na área fiscal e também pela intervenção vigorosa do BC, o Fed. Por sorte ou por bênção divina, a atual crise chegou num momento em que o Fed está sendo comandado por Ben Bernank, um dos economistas americanos que mais estudaram a Grande Depressão.
Também por aqui precisamos estar atentos às lições dos anos 1930. Desde agosto do ano passado, o governo vem tomando medidas para reestimular a economia. Baixou gradativamente os juros básicos, a ponto de colocar a Selic em nível nunca antes registrado desde a sua criação. Ofereceu estímulos fiscais, com redução de tributos a vários setores fabricantes de produtos de consumo. Estimulou a oferta de crédito. E lançou um pacote de investimentos em infraestrutura com o objetivo de atrair a iniciativa privada para empreender nesse setor.
Apesar dessas medidas, os efeitos práticos ainda são modestos -discretos sinais de recuperação começam a aparecer. O pacote de infraestrutura de transportes pode estimular o empresariado a retomar o ânimo para investir. Mas serão necessárias ações concretas na área do crédito e no destravamento de burocracias com desapropriações e licenças ambientais, tarefas sob a responsabilidade do setor público.
Não há, de qualquer forma, ameaça de recessão, embora o PIB deva crescer menos de 3% neste ano. O cenário geral do país é bastante favorável. O índice de desemprego continua no nível mais baixo desde a sua criação, e o Brasil tem reservas externas superiores a US$ 380 bilhões, volume que dá enorme tranquilidade ao balanço de pagamentos, por onde quebram os países.
As experiências dos anos 1930 dizem ao Brasil que não devemos esmorecer no esforço de estimular a economia e jamais cair na armadilha da doutrina conservadora que, em momentos como esse, manda jogar na retranca, cortar gastos, apertar os cintos e desestimular o consumo. O aumento do investimento do setor público é essencial. A indução do investimento privado, como a feita nas rodovias e ferrovias, é muito bem-vinda.
A inflação sempre será uma ameaça a ser ferozmente combatida, principalmente em países que já enfrentaram hiperinflações, como o Brasil. Mas não há razão para que essa ameaça seja colocada hoje em primeiro lugar. O que a sensatez e a ponderação nos recomendam hoje é que devemos manter o crescimento da economia e continuar criando o mesmo número de empregos que o país criou nos últimos anos.
Pressões para que o governo adote a austeridade rigorosa, corte investimentos e abandone os estímulos à produção e ao consumo não são razoáveis. É importante resistir a elas, assim como se deve continuar na política de redução de juros e de estímulo ao crédito.
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