O recado era simples, mas me causou surpresa e, ao mesmo tempo, emoção: "Meu estimado neto e xará. Agora, também faço parte do universo Facebook. Convido você a fazer parte do meu grupo de amizades e podermos melhorar nossa comunicação. Aceite a solicitação de amizade do seu avô Jayro. Um grande abraço".
O seu Jayro me "adotou" como neto do coração faz dois anos, assim que comecei a prosear neste espaço. Atualmente, somos bem mais que ligados pelo músculo cardíaco. Falamos sobre pressão alta, sobre o calor em pleno inverno, sobre a gaiola do passarinho que não viu sua cabeça. Finalmente, também somos "faceamigos".
Na rede social, também tenho várias "avós" que me dão conselhos, que "curtem" minhas fotos fazendo graça, que insistem com as amigas que meus rabiscos e garranchos de pensamentos são "imperdíveis".
Entendo aqueles que "odeiam essas coisas" de ficar se expondo na internet, mas o mundo virtual pode dar conforto, conhecimento, estimular o espírito crítico -e o de porco. Para mim, é certo que os avós podem dar menos a mão para a solidão quando navegam.
O bombardeio de postagem na invenção de Zuckerberg cria, sim, buracos de inutilidade e álbuns repletos de figuras bobas, de poesias ligadas a escolas pouco literárias e muito decadentes.
Mas, se os dizeres que estão ali causam euforia e melhoram o dia daqueles que se dedicam à leitura das "mensagens lindas", a chatice de ficar azucrinando a brincadeira digital fica fadada aos redutos saudosistas.
Pelo "Face" os avós conseguem acompanhar um pouco da rotina dos pequenos que têm agenda lotada -é natação às 12h, é aula de pilates no final da tarde, é videogame à noite. Crianças e adolescentes têm dias agitadíssimos e acabam ficando sem "tempo" para detalhes como a família.
Obviamente o revés desse turbilhão metido a informativo e imagético existe e as caneladas desse jogo podem doer um bocado nos menos avisados de que, hoje em dia, o duplo sentido das palavras é comum e as atitudes dos jovens são pouco comportadas.
Não é fácil para alguns mais velhos ver a foto da nova "tatoo" que a Carol acabou de fazer, pouco acima do cóccix. Também pode ser intragável aquele "scrap" do Cauê dizendo que bebeu "até morrer" na balada do Juca.
E, se acontecer de o netinho dar um "block" no perfil da vovó, poderá ser o primeiro pingo de um dilúvio que molhará lenços e lençóis, mas brincar com tecnologia envolve risco de estresse, de tentativa e erro para acertar o cursor no prumo que dará o clique perfeito.
Adorei ter meu avô sentimental no meio do meu grupo de amigos. Tenho muito a aprender com ele e a surpreender a ele. Lado a lado, a gente evolui e tropica junto. Querer apartar os mais velhos da incomensurável "era digital" é que me parece ideia de jerico.
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Amanhã começa a Paraolimpíada de Londres e os brasileiros sem pernas, sem braços, avariados das vistas, prejudicados em geral do esqueleto têm chance de sagrarem-se campeões. Por isso, estou indo para lá. Quero aplaudir sentado, com muito orgulho!
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