CORREIO BRAZILIENSE - 28/08
Desde que deixou o cargo de líder do governo, em março, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) optou pela discrição. Ninguém vê Jucá envolvido em grandes embates, seja no plenário, seja nas comissões. Mas esse período de “quarentena” está no fim. Na semana que vem, ele terá a faca e o queijo nas mãos para, se quiser, emparedar o governo da sua antiga “chefe” Dilma Rousseff.
Vale aqui resfrescar a memória: Jucá foi demitido do cargo de líder do governo quando o plenário do Senado rejeitou a indicação de Bernardo Figueiredo — hoje presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) — para a Agência Nacional de Transportes Terrestres. Naquele momento, a presidente desconfiou de que os peemedebistas atuaram nos bastidores para derrotá-la e o seu líder deixou correr solto. Jucá saiu com ares de “faz parte do jogo”, mas não gostou de ser afastado. Afinal, qual político gosta de perder poder?
Jucá, entretanto, não ficou “ao relento” — expressão que os políticos usam para definir aqueles que já estiveram no topo e hoje não têm tanta expressão assim. No mesmo mês, foi confirmado relator do Orçamento da União para 2013. A proposta orçamentária chega ao Congresso nesta sexta-feira. Até o final do ano, Jucá tem a força.
Por falar em força…
Ontem Jucá fez a primeira reunião com técnicos da área orçamentária no Congresso. Ouviu deles que as pressões dos servidores públicos por mais aumentos vão desaguar em sua sala, da mesma forma que sindicatos do Poder Judiciário jogaram todo seu poder de fogo sobre Arlindo Chinaglia (PT-SP) que, no ano passado, relatou o Orçamento de 2012. Há um ano, Dilma não incluiu na proposta de Orçamento o valor dos recursos relativos ao reajuste do Judiciário. Os sindicatos reclamaram, Dilma enviou um adendo ao Orçamento, mas Chinaglia não incluiu o pedido de reajuste em seu relatório sobre as despesas de 2011.
Há quem esteja preocupado com as diferenças gritantes entre a situação de Jucá hoje e a de Chinaglia. No ano passado, o petista ganhou a simpatia da presidente Dilma ao fazer o que o governo desejava. Não por acaso, virou líder do governo na Câmara, no lugar de Cândido Vaccarezza (PT-SP). Jucá recebeu a relatoria como compensação por ter perdido a liderança. Agora pode, se quiser, armar uma arapuca para Dilma, recheando os recursos destinados a pessoal para garantia de aumentos ao funcionalismo.
A outra arapuca que Jucá pode armar diz respeito à receita. O governo tem sido otimista na previsão de receita para o ano seguinte, sem dar margem a aumentos da estimativa de arrecadação por parte dos relatores. E, para completar, a receita está em queda. A arrecadação de julho foi 7,36% menor do que o total arrecadado no mesmo mês do ano anterior.
O detalhe sutil é que Jucá pode conceder os reajustes sem dar margens a vetos do governo. Basta colocar recursos no bolo orçamentário destinado ao pagamento de pessoal do Judiciário. Para vetar, Dilma teria que cortar integralmente esses recursos, sem deixar um tostão para pessoal do outro Poder. Jucá, entretanto, ainda não disse o que fará. Como um político experiente, sabe pacientemente esperar a hora de agir e usa ao máximo a frase: quem tem tempo, não tem pressa.
Por falar em tempo…
O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) mantém a propaganda do candidato a vice-prefeito de Osasco (SP), Jorge Lapas, em destaque. Afinal, depois de 4 votos a 2 pela condenação, os petistas ficaram pessimistas. Embora ainda faltem cinco ministros para votar, a cúpula partidária começa a perder as esperanças de absolvição.
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