O GLOBO - 05/08
O Itaú perderá este ano R$ 19 bilhões com empréstimos não pagos. A informação é do presidente-executivo do banco, Roberto Setúbal. Isso não ameaça a instituição porque é apenas uma parte do ganho, mas o cálculo absoluto mostra a dimensão do risco. Setúbal admite que os juros são altos e que o governo estava certo em seu movimento pela derrubada das taxas.
Perguntei a Roberto Setúbal a razão de juros tão altos. Há fatos estranhos, como o de que as filiais do mesmo banco Itaú fora do Brasil, no Chile e Uruguai, por exemplo, têm spreads menores. Há diferenças no peso dos impostos, no tamanho do compulsório, mas, com todos os descontos, a diferença ainda é enorme. O banqueiro disse que as condições no Brasil são diferentes e afirmou que o nível de inadimplência aqui está maior do que nos países que enfrentaram recentes crises de crédito.
Nos bancos, os números são todos muito grandes, diz Setúbal, antes de avisar que só o Itaú perderá entre R$ 18 bilhões e R$ 19 bilhões este ano com empréstimos que não serão pagos. Isso representa 40% das margens dos empréstimos. Garante que o Brasil não está em crise de crédito, mas afirma que a inadimplência aumentou demais:
— O modelo de expansão do crédito não se esgotou, mas no futuro não crescerá como foi até agora. Os bancos ajudaram muito nesse esforço de ampliação do crescimento via crédito, mas daqui para a frente não poderá aumentar na mesma proporção.
Setúbal me disse — na entrevista para o meu programa na Globonews — que o movimento do governo de reduzir juros foi “adequado” e negou que tivesse havido briga entre o governo e os bancos privados. Foi apenas um mal entendido, segundo ele, ainda que admita: “Quando não somos entendidos, nos sentimos pressionados.” O fato é que os spreads caíram desde que o governo iniciou a campanha pela redução das taxas. Os bancos públicos tomaram a dianteira e foram seguidos pelos privados. E estão perdendo participação no mercado para os estatais.
A entrevista foi feita na sede da instituição financeira, em São Paulo. Ao contrário dos bancos de antigamente, os de agora não têm salas com móveis antigos e pesados para os seus executivos. Normalmente são salas de vidro, com móveis práticos, onde diretores dividem o mesmo espaço. É assim no Itaú. Numa mesma enorme sala, em mesas próximas, estão herdeiros de duas famílias milionárias: Setúbal e Moreira Salles. Roberto é o presidente-executivo do banco que resultou da fusão dos ativos do Itaú e Unibanco. Pedro Moreira Salles é o presidente do Conselho de Administração. Em outras mesas no mesmo espaço ficam os vice-presidentes.
Apesar de a marca que ficou ter sido Itaú, apagando todos os vestígios do nome Unibanco, eles garantem que não foi uma aquisição, mas sim uma fusão. O Itaú cresceu a cada crise. Em 1995, comprou o Francês e Brasileiro; em 97, o Banerj; em 98, Bemge; em 2002, o BBA; em 2005, o Banco de Boston e, em 2008, houve a fusão com o Unibanco, que havia comprado o Nacional em 96.
Cinco dos 137 bancos no país são responsáveis por mais de dois terços dos ativos bancários. Mesmo assim, Setúbal garante que não falta concorrência. Ele acha que haverá novas quedas de juros.
O Brasil está naquele momento em que precisa reduzir o custo dos financiamentos, para diminuir os casos de inadimplência, mas ao mesmo tempo não deve estimular ainda mais o crédito, para que o avanço seja sustentável. Como disse o FMI, é preciso evitar que o sistema bancário brasileiro, que alimentou a rápida expansão do crédito, não seja vítima do próprio sucesso.
Os pontos-chave
O banco Itaú perderá este ano R$ 19 bilhões com empréstimos inadimplentes
Nível de calote no Brasil está maior do que em países que enfrentaram crises de crédito
Como alertou o FMI, o sistema financeiro precisa tomar cuidado para não ser vítima do próprio sucesso
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