FOLHA DE SP - 24/06
BRASÍLIA - Fernando Lugo não foi sacado de casa de pijamas e jogado num avião, como em Honduras. Não se viu nenhum daqueles quepes paraguaios enormes que fazem a alegria de cartunistas. E a Constituição foi cumprida, como é na Venezuela sempre que Chavez quer dar um golpe sem parecer golpe.
O grave é, além da boa simbologia do personagem Lugo, o timing: a 9 meses das eleições? Em 30 horas? Sem condições reais de defesa e de recomposição política?
Distraída na Rio+20, a comunidade internacional nada sabia e levou um susto, algo particularmente constrangedor para o Brasil, que tinha de estar bem informado. É padrinho rico e sócio em Itaipu, além de aliado de coração de Lugo, ex-bispo católico de lindas intenções, que enterrou (ou parecia ter enterrado...) o poder do Partido Colorado e seus 61 anos de ditadura e/ou de corrupção.
Os números, porém, são eloquentes: só 1 dos 80 deputados e 6 dos 45 senadores não votaram pelo impeachment. Lugo está só. Perdeu as condições de governabilidade.
Se o processo foi uma surpresa, o ambiente em que a deposição se deu também foi: instituições unidas, militares fora, manifestações populares até agora discretas, uma curiosa passividade do próprio Lugo, enquanto o sucessor Federico Franco fazia juras pela democracia.
Argentina, Venezuela e Equador brandem a cláusula democrática e querem a expulsão já da Unasul, mas o Brasil observa e tenta ganhar tempo até o encontro Dilma-Franco e uma reunião conjunta da Unasul e do Mercosul no dia 29, em Mendoza, aos pés dos Andes.
O Brasil será certamente criticado -se é que já não está-, mas acerta ao não querer ser mais realista do que o rei. O "rei", no caso, são as instituições e o povo paraguaio, que parecem estar assimilando bem os fatos e seus desdobramentos, sem ingerência externa. Eles são os donos da casa. Os outros, só os vizinhos.
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