CORREIO BRAZILIENSE - 10/05/12
Os deputados andam meio entristecidos, olham para a popularidade de Dilma como algo que não é compartilhado com eles, cada vez mais distantes do poder
O governo está bombando perante o eleitorado, a presidente Dilma Rousseff segue lépida e fagueira, liderando sua equipe rumo àquilo que se propôs. O PT, então, é só felicidade, certo? Errado. Os petistas estão infelizes e não é de hoje. No plenário, não é raro ver os deputados em conversinhas meio de lado, com cara de quem não está muito contente. E isso tem motivo: Dilma simplesmente quer que eles compartilhem do seu sucesso, mas sem dividir o poder.
Ontem, eram o líder Jilmar Tatto e o deputado Ricardo Berzoini, ambos do PT paulista, falando sobre reuniões a respeito de vários assuntos. Uma aproximação da imprensa e as conversas cessam. Nenhum dos dois fala de um encontro entre o ministro da Fazenda, Guido Mantega; o presidente da Câmara, Marco Maia; e o líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), para tratar do futuro do Banco do Brasil, juros ou poupança, tema que a presidente espera apoio total do PT. No BB, mudanças de diretores deixaram Maia irritado no passado e continuam incomodando.
Por conta dessas e outras troca de comando sem que os políticos sejam, ao menos, comunicados com antecedência, o PT nos bastidores se mostra tão infeliz quanto o PMDB ou outros partidos no que se refere à ocupação de espaços. Não se cansam de repetir a frase que Dilma disse numa reunião logo na largada de seu governo e que eles simplesmente não levaram a sério: “Na área de bancos e de energia quem manda sou eu”. Esse é um dos motivos da infelicidade do PT.
Por falar em bancos...
A presidente deixa transparecer aos políticos que é ela a grande comandante da economia e Mantega apenas o executivo que segue aquilo que a chefe determina. Quando ele fala nas reuniões, Dilma logo emenda: “Ele quer dizer que...” e dá a sua explicação a respeito de qualquer proposta. Foi assim no encontro para explicar as mudanças na remuneração da poupança. E, esta semana, Mantega levou oficialmente ao PT a notícia sobre o afastamento de Ricardo Oliveira do Banco do Brasil.
Os deputados andam meio entristecidos. Olham para a popularidade de Dilma como algo que não é compartilhado com eles, cada vez mais distantes do poder. Aos poucos, conforme Dilma avisou na primeira reunião, vão saindo da Petrobras e da área de energia como um todo. Foi em meio à saída de Sérgio Gabrielli da presidência da petroleira, que o secretário executivo do ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, se filiou ao PMDB para ser apresentado como futuro ministro se for preciso.
Por falar em entristecidos...
Nem mais no quesito liberação de recursos os deputados se sentem importantes. As emendas ao Orçamento da União, que fazem a alegria dos políticos em levar recursos para suas bases eleitorais, vêm perdendo importância junto aos prefeitos desde o governo Lula. Isso porque recursos para saúde, educação, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e programas de governo como um todo seguem diretamente para os municípios sem precisar passar pelo crivo dos deputados. Ou seja, Lula e, agora, Dilma restabeleceram uma relação direta com as bases.
E, para completar a tristeza dos políticos — do PT e dos partidos aliados — não existe hoje na Casa uma proposta em debate que sirva para derrotar o governo de forma acachapante e, ao mesmo tempo, dar aos deputados a oportunidade de posar de mocinho perante o eleitor deixando à presidente Dilma o papel de vilã.
Por falar em papéis...
Nessa novela, com a maioria dos políticos no papel de meninos levados, eles apenas aguardam o dia em que a “dona da pensão”, no caso, Dilma, precisará deles para tirar um “gato” do telhado, consertar a “antena” da TV a cabo. Se esse pedido não vier na CPI do Cachoeira, a janelinha pode ser a Lei de Diretrizes Orçamentárias, uma proposta que sempre passa sem muita confusão no Congresso. Desta vez, a ideia dos partidos é usá-la para dar um susto no governo.
Quando não há nada que possa incomodar para valer um presidente da República, seja ele quem for, os partidos sempre inventaram algo. A diferença é que, até o início do governo Dilma, todos os outros compartilharam o poder com o seu partido e os aliados. Dilma parece disposta a romper essa tradição.
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