FOLHA DE SP - 10/05/12
O ambiente está tenso porque Dilma Rousseff teria descoberto ou escolhido um caminho para encontrar o seu Graal político, sua medalha de ouro, a marca com a qual quer sair da vida política para entrar na história: baixar os juros. Mais modestamente, seria esse o "Plano Real" da presidente. Leva chumbo quem atravessar o caminho luminoso do programa presidencial.
Tucanos de corpo ou de alma e críticos em geral do programa dilmiano desdenham a comparação, dizendo que oPlano Real teve "impactos estruturais e duradouros" no país. "Baixar os juros na marra" não teria o mesmo efeito.
Bem, o Plano Real, em si mesmo, foi um improviso e um artifício brilhante para conter a inércia hiperinflacionária. Não teria ido longe sem medidas complementares (hipervalorização cambial, abertura do comércio, privatização, controle da dívida dos Estados, saneamento bancário).
Não foi pouca coisa, mas muita coisa deixou de ser feita e continuou meio improvisada, no mau sentido. Mas o fim da hiperinflação por si só mudou muito o país, mesmo que ainda faltassem muitas medidas "estruturais" de estabilização.
O programa dilmiano é muito mais improvisado e talvez politizado demais (no sentido de depender mais de força do que de jeito e mudanças institucionais). Mesmo que aos trancos e barrancos, no entanto, vai provocar mudanças em outras áreas se for capaz de manter os juros baixos por algum tempo.
Algumas mudancinhas já são visíveis: investidores procuram alternativas para aplicar seu dinheiro, que talvez agora procure financiar empresas. Talvez Dilma prove a tese de que os juros no Brasil são altos em parte porque são altos faz muito tempo. Mas tratar apenas de juros e câmbio é pouco.
Dilma disse que vai tratar também de reduzir impostos, a carga tributária. Pode ser. Para tanto, talvez tenha de se reeleger.
Mas seus ministros econômicos têm dito que as contas do governo estariam equilibradas ou quase isso em 2014. Sem deficit, com arrecadação crescendo um pouquinho além do PIB, dá para cortar impostos.
Para vir o equilíbrio fiscal, o governo precisa ter alguma sorte (que a crise mundial não fique ainda pior), que o Brasil cresça pelo menos 3,5% ao ano e evitar, daqui até 2014, o aumento de gasto com benefícios sociais e com funcionários (como proporção do PIB). E manter o investimento público nesse nível miudinho, a não ser que reduza o tamanho do Estado em outras áreas.
Convenhamos que equilíbrio nas contas públicas seria um feito. Não seria lá um feito muito duradouro, pois muito dependente do ciclo econômico (anos bons de crescimento do PIB e da receita de impostos). No programa dilmiano faltam alguma visão de médio prazo e mudanças institucionais.
Sim, a gente faz a história do jeito que dá, com os instrumentos à mão. Não há perfeição na política. Mas apenas vontade pura, ou voluntarismo, também não dá certo.
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