sexta-feira, maio 18, 2012

O Rio não merece o Copacabana Palace - BARBARA GANCIA


FOLHA DE SP - 18/05

Quem foi que apontou uma arma na fuça de Carlos Lacerda em pleno bar do Copa?

HOSPEDEI-ME NO Copacabana Palace na semana passada, o primeiro grande hotel que conheci, aos quatro anos de idade. De lá para cá, o Copa permanece sendo para mim um oásis onde tu­do dá certo. Tão certo, que até o ser­viço de quarto consegue acertar o meu sexo, apesar de minha voz de Gengis Khan, atendendo aos meus chamados sempre com a mesma frase: "Pois, não senhora?"

Para quem já passou pela "benet­tonização" do mundo, vendo surgir uma loja padronizada em cada es­quina do planeta, de Durban a Tiananmen Square, depois observou a mesma uniformização que ocorreu no vestir acontecer no mercado do luxo, na forma da "louisvuittoniza­ção", nada mais natural do que ob­servar agora a estandardização da hotelaria. Não que o fenômeno seja novo, nada disso.

A essa experiência, em que o clás­sico foi desprezado em favor do pós-moderno ou do moderninho, eu chamo de "philippestrackiza­ção" e, pessoalmente, para mim, ela significa a morte.

Certa vez, hospedei-me em um hotel do arquiteto Philippe Starck em Nova York. Não consegui en­contrar lugar para apoiar a mala, não dava para ler na cama, ajeitar o nécessaire no banheiro, enfim, era tudo tão minimalista que tive von­tade de mandar o sr. Starck usar um daqueles espremedores de limão que ele produz para fins um tanto mais rústicos.

Mas voltemos ao Rio. Nesta sema­na mais um prédio desabou ao lado de onde estão a Petrobras e o hotel Glória, que está sendo renovando pelo novo salvador da pátria, Eike Batista. Vá você tentar dizer alguma coisa a seu respeito a um carioca em uma cultura acostumada a re­verenciar qualquer barão que faça uma benfeitoria na cidade. Lembra do Aniz Abrãao, Castor de Andrade e do Nem? Pois então. Bastou fazer que ganha aplauso, ninguém nem sequer pergunta quem é.

E dá-lhe bandana na cabeça no Le Bristol de Paris e às favas com a tra­dição. Quem quer saber se Orson Welles ou Frank Lloyd Wright an­daram pelo Rio ou se Santos Du­mont e Ava Gardner curaram a res­saca no bar do Copa?

Em Santa Tereza, o hotel em que a Amy se hospedou sofreu arrastão? Não importa, é lá que o pessoal que frita a cabeça em Ibiza quer ficar.

O Rio de Janeiro é um visto de ci­ma (esplendoroso) e outro (por ve­zes aterrorizante) visto da calça­da. Os turistas que hoje atrai são to­dos duas estrelas. De três estrelas para cima, ninguém quer ir descan­sar em lugar com praias infectadas.

Endinheirado, mesmo, só vem para cá a turma dos bacanas, o pes­soal in, que sabe circular e conhece aquele cara que conhece o outro, que vai na casa do Caetano e joga bola na casa do Chico. É a "wallpa­perização" do sistema. Para eles existe o hotel Fasano, muito baca­na, aliás, mas que atende a um cir­cuito fechado.

Neste ano o naufrágio do Titanic comemora cem anos. Ele nos fasci­na até hoje por ter simbolizado, além de um tapa na presunção de domínio sobre a tecnologia, tam­bém o fim da era da "noblesse obli­ge". John Jacob Astor IV, o homem mais rico do mundo à época, recu­sou-se a subir nos botes salva-vidas para ceder seu lugar. Morreu de ca­saca ouvindo a orquestra e beben­do champanhe. Não estou dizendo que o Copacabana Palace repre­sente esse tipo de espírito em con­traste com a esbórnia da turma de lenço na cabeça.

Mas o Rio de hoje faz tudo para não merecer o Copa e seu valor his­tórico e cultural. Quem ainda se lembra quem foi que apontou uma arma na fuça de Carlos Lacerda em pleno bar do Copa?

4 comentários:

Anônimo disse...

Ah, bom sao os turistas cinco estrelas de Nova York, Paris...

Anônimo disse...

Que pessoa invejosa...dá até dó.

Anônimo disse...

Errada ela não está em dizer que o Rio é assim. Está errada, sim, em não dizer que o Brasil todo é isso aí, não só o Rio.

Anônimo disse...

Pena dessa Gancia e seu ranço colonialista. Pobre mulher. Não sabe o que diz. E como pode a Rolha publicar uma coisa dessa???