REVISTA VEJA
O pacote passou ao largo do que efetivamente é preciso fazer para tornar competitivos os produtos manufaturados no Brasil, ignorando que nossas fábricas não conseguem competir com o produto importado, tampouco ganhar mercados lá fora, porque são obrigadas a arcar com uma carga fiscal que beira os 40% do produto interno bruto (PIE) - a maior entre todos os seus concorrentes diretos. Nossos produtos não são competitivos também porque as empresas brasileiras pagam, proporcionalmente à renda per capita, o mais alto preço por mão de obra especializada do mundo, a mais cara energia elétrica e as mais exorbitantes tarifas de telecomunicação de voz e dados.
A manufatura brasileira não poderá entrar na corrida global por mercados enquanto tiver de gastar o triplo, ou até mais, de tempo e dinheiro que seus concorrentes para se adequar ao complexo, impenetrável, ilógico e contraditório conjunto de regras, regulamentos e portarias do labirinto legal brasileiro.
Anunciado pela presidente Dilma Rousseff, por Guido Mantega, ministro da Fazenda, e por Marco Maia, presidente da Câmara dos Deputados, o pacote da semana passada é, ao mesmo tempo, uma confissão de impotência diante dos verdadeiros desafios brasileiros e uma rendição aos grupos de pressão que conseguiram adiar temporariamente o encontro com a realidade de sua inadequação competitiva global. O governo vai oferecer 45 bilhões de reais de crédito barato à indústria, dinheiro a ser repassado pelo BNDES, que recebe recursos caros captados pelo Tesouro no mercado financeiro, pagando um dos mais altos juros do planeta - e, para piorar, sem autorização do Congresso Nacional. A conta do subsídio vai ser mandada aos brasileiros que pagam impostos. É uma triste combinação de ilusão com crueldade fiscal.
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