quinta-feira, abril 05, 2012
Guerra de escândalos - DENISE ROTHENBURG
Correio Braziliense - 05/04/12
Ou os políticos aproveitam a crise envolvendo Carlos Cachoeira para, com uma CPI, limpar a própria imagem ou nada muda: Dilma continuará nas alturas, alheia às crises, enquanto os políticos e os partidos permanecerão como os patinhos feios da história
Prepare-se, leitor: pelo que se ouve nos corredores do Congresso, cada um tem um alvo a atacar quando as excelências voltarem ao trabalho depois do feriadão de Páscoa — que, para muitos parlamentares começou há sete dias. E a guerrilha em curso desconhece a divisão base aliada ou oposição. Tem para todos os gostos e todas as searas. Pedidos de CPI pululam. E, reza lenda, CPI é igual água mole em pedra dura: tanto bate... até que fura. E, para desgosto dos congressistas, está cada vez mais desgastante para os congressistas evitar essas investigações. E os motivos para isso são os mais variados.
Dentro do PMDB, por exemplo, há um grupo de prontidão, cansado de ver os seus integrantes perdendo espaço. Essa turma espera apenas que a oposição comece a instigar a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Ministério da Pesca e os negócios da pasta que têm relação direta com empresas doadoras de recursos à campanha da ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti. Ela concorreu ao governo de Santa Catarina em 2010. Os peemedebistas não veem a hora de o governo Dilma bater à porta do partido para pedir ajuda contra CPIs que tentem emparedar Ideli ou a área econômica — leia-se o escândalo relacionado à Casa da Moeda.
Mas esse não é o único foco. Enquanto parte do PMDB torce para ver Dilma dedicada a salvar ministros, grupos de petistas monitoram os pedidos de CPI para investigar o empresário do jogo do bicho Carlos Cachoeira. Há, dentro do PT, quem seja capaz de apostar o 14º e 15º salários dos senadores na seguinte troca: se a oposição quiser mexer com Ideli, que aguente o tranco sobre os seus. Afinal, Demóstenes Torres deixou de ser do DEM, mas continua no campo oposto ao governo Dilma.
Por falar em governo...
Diante de tanta tensão nesse início oficial do feriadão no Congresso, pode ter certeza, leitor, de que a crise não cessará. Em especial, depois que o Ibope registrou a alta popularidade da presidente Dilma Rousseff. A pesquisa CNI Ibope indicou que ela obteve 77% de aprovação popular no auge de seu entrevero com a base e a troca dos líderes do governo nas duas Casas. Isso demonstra que a população, descolada dos congressistas, aprova a forma como Dilma enquadra os políticos. Sendo assim, ela não tem por que mudar essa relação. Pelo menos, não agora.
Curiosamente, os entrevistados não atribuem a ela os erros por ter escolhido dos ministros que terminaram afastados. Ela os afastou e isso é que importa para o cidadão comum, conforme as pesquisas. O desgaste permanece 100% no colo dos partidos e, por tabela, no Congresso. Ainda mais agora que a Casa se vê novamente sob fogo cruzado por conta de várias mazelas, 14º e 15º salários, Carlinhos Cachoeira e suas relações tanto com o senador Demóstenes Torres, que já saiu do DEM, quanto com deputados de dentro e de fora da base governista.
Por falar em mazelas...
O desgaste dos políticos chegou a tal ponto que, ou eles agem como Dilma e aproveitam a crise envolvendo Carlos Cachoeira para com uma CPI limpar a própria imagem — ainda que cortando algumas peças do tabuleiro — ou nada muda: Dilma continuará nas alturas, longe das crises, enquanto os políticos e os partidos permanecerão como os patinhos feios da história.
Por falar em permanecer...
Engana-se quem pensa que o bloco PTB-PR chega como uma força extra capaz de desafiar o PMDB no Senado. Não é segredo para ninguém que os líderes do novo bloco, em especial o petebista Gim Argello (DF), têm excelentes relações com o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL). Coincidência ou não, o bloco surgiu sete dias depois de o presidente do PMDB, Valdir Raupp, ter recebido a ficha de filiação do secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. A filiação de Zimmermann ao PMDB vem no sentido de deixar o ministério nas mãos de um "peemedebista", caso vingue a ideia de Dilma, de deslocar Edison Lobão para concorrer à presidência do Senado. E todos sabem que Renan ainda não abandonou seu plano de voltar ao comando da Casa. Esse é mais um ingrediente da crise política que só mostrará seu verdadeiro sabor depois das eleições municipais.
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