O GLOBO - 05/04/12
É difícil acreditar que não exista, entre os militares, uma corrente, ou talvez até uma maioria, que reprova a atitude dos clubes de reformados das forças armadas em relação à comissão da verdade e ao esclarecimento final do que houve nos anos de rebeldia e repressão. Dos clubes militares só se pode esperar bravatas vazias, mas ignora-se até que nível vai a mesma insubordinação entre os da ativa. Entende-se a resistência a remexer lama antiga, mas é impossível que se continue a sonegar à Nação uma parte tão importante da sua história. E é impossível que ainda confundam a preservação da honra da instituição militar com o silêncio e prefiram o estigma das acusações nunca investigadas ao esclarecimento.
LEGADO
Dizem que o legado mais importante de qualquer presidente americano não são suas obras, suas escolhas econômicas ou sua herança política; são suas nomeações de juízes para a Corte Suprema. Os juízes supremos, com suas decisões e interpretações da lei, são os que determinam os rumos do país, seja quem for o presidente – que é apenas temporário, enquanto eles costumam ser longevos. A Corte Suprema americana (muito mais marcadamente do que a nossa, onde há algumas figuras intermediárias) se divide em conservadores e liberais e, nos últimos anos, tem sido dominada pelos conservadores – que, apesar da antipatia declarada da maioria por uma Corte muito “ativista”, têm se metido bastante em política. Foi a atual Corte, com duas ou três exceções, que literalmente doou a reeleição ao Bush, quando houve aquele problema da recontagem dos votos para ele e para o Gore na Flórida e havia a ameaça de que a recontagem favoreceria ao Gore. A Corte mandou parar a recontagem. Estes mesmos juízes, quase todos nomeados por republicanos, estavam infernizando a vida do Obama, que tenta criar um programa de saúde pública que só os Estados Unidos não têm, entre as potências industriais do mundo, e que os juízes retalharam.
CAÇA-NÍQUEIS
A mesma Corte Suprema americana decidiu eliminar qualquer limite ao que empresas e corporações podem doar aos candidatos a cargos públicos em campanha. Antes, claro, já davam muito dinheiro escondido, ou você pensa que o Caixa 2 foi inventada no Brasil? Agora podem dar às claras, e o quanto quiserem. E os candidatos prometerem o melhor governo que o dinheiro pode comprar. No Brasil, deveríamos fazer o mesmo, uma espécie de leilão em que o candidato se ofereceria abertamente ao maior patrocinador com o compromisso de defender seus interesses no governo ou no Congresso. O que nos pouparia de espetáculos melancólicos como o do Demóstenes – claramente uma vítima do sistema atual de financiamento de campanhas – negociando apoio clandestino com o rei dos caça-níqueis.
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