O GLOBO - 27/03/12
Osetor manufatureiro tem se queixado de perda de competitividade. Com o recuo de 2,1% da produção industrial em janeiro de 2012 frente a dezembro de 2011, as reclamações ganharam mais força. Os motivos alegados são a valorização do real e o alto custo Brasil. Em relação ao câmbio, as notícias são pouco alvissareiras. O PIB da China cresce na faixa de 8% ao ano, o que mantém as commodities em alta. Além disso, a situação europeia e americana aponta para a manutenção da elevada liquidez internacional, o que significa mais pressão no ingresso de divisas. Assim, o foco da análise deve se dirigir para o alto custo-país e as maneiras de reduzi-lo. Contudo, há, de fato, razões palpáveis para tanta apreensão com o momento atual das nossas manufaturas?
Ao se analisar o setor, observa-se que a indústria de transformação, que já representou 15,3% de nosso PIB em 1996, viu sua participação cair para 14% do PIB, em 2007. O declínio nos últimos quatro anos foi ainda mais acentuado, atingindo 12,4% do PIB em 2011. Apesar de os números indicarem uma queda inconteste da participação das manufaturas na produção nacional, a experiência internacional mostra que no processo de desenvolvimento de um país a indústria de transformação, inevitavelmente, cede espaço para o setor de serviços. Mas o que chama a atenção no caso das manufaturas brasileiras é essa persistente apatia refletida pelos números. A produção industrial em janeiro de 2012 é, grosso modo, a registrada em dezembro de 2007 e também em dezembro de 2009. O país cresce, mas as manufaturas não.
No que tange à macroeconomia brasileira, os principais indicadores não sugerem sinais de maiores preocupações: o crescimento do PIB médio anual será menos vigoroso do que gostaríamos - dificilmente será superior a 4% -, mas não chega a ser desolador. A nossa balança comercial tem exibido saldos positivos, enquanto a de transações correntes, mesmo que negativa, não assusta. Os juros internos, ainda elevados, estão se reduzindo. A despeito do tamanho do Estado, tem-se obtido, sistematicamente, superávit fiscal primário. A inflação está acima da meta proposta, mas ainda dentro de uma margem de conforto.
Neste contexto, a pergunta imediata a ser formulada é: na medida em que a situação econômica é satisfatória e a indústria não vai tão bem, o que fazer?
Ao relembrarmos o esforço feito para que a indústria atingisse o status atual, o receio de uma rápida desindustrialização é compreensível. Durante décadas, governos de diferentes matizes políticos e ideológicos adotaram ações de grande incentivo ao soerguimento da indústria nacional. Embora existam críticas à condução deste processo de industrialização, não se pode negar que o Brasil montou um parque manufatureiro eficiente e competitivo em muitas áreas. A nossa pauta exportadora ficou mais diversificada, e, com isso, o país menos suscetível à variação no preço de uma ou outra mercadoria. A produtividade cresceu a taxas maiores na manufatura do que nos demais setores da economia, além de ter gerado empregos para uma mão de obra, em média, mais qualificada.
Considerando o abatimento da indústria, as incertezas daí decorrentes e a comprovada dificuldade de desvalorização do real, as soluções devem passar por uma análise criteriosa do custo-país. As medidas que me parecem apropriadas são aquelas que facilitam a operação da indústria nacional, sem, com isso, comprometer a ação das concorrentes estrangeiras. Há que se priorizar, portanto, políticas que levem à queda nos custos de produção das firmas brasileiras. Aliás, a desoneração da folha de salários de setores específicos vem sendo implantada pelo governo e vai exatamente ao encontro desse princípio. É importante ressaltar, por fim, que políticas que levem à criação de barreiras à entrada de competidores do exterior não são recomendáveis, pois trazem um efeito perverso ao fomentar ineficiências acobertadas pela prática de preços abusivos.
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