FOLHA DE SP - 27/03/12
"A POLÍTICA ECONÔMICA não mudará. A política econômica é a política econômica do presidente Lula. O presidente Lula é o fiador dessa políticaeconômica. Além disso, a política econômica não deve mudar porque é a política econômica mais bem-sucedida dos últimos 15 ou 20 anos no Brasil."
Era o que dizia Guido Mantega em sua primeira entrevista coletiva como ministro da Fazenda. Hoje, faz seis anos que Mantega está no posto. Em longevidade, perde apenas para Pedro Malan (1995-2002), ministro durante todo o governo FHC, e para Artur de Souza Costa (1934-1945), que teve a administração cortada por algumas interinidades. Mas Mantega durou mais que Delfim Netto e Mário Henrique Simonsen, que fizeram história no cargo, durante a ditadura militar.
Mantega assumiu sob grande descrédito, embora a indústria tenha ficado contente com sua nomeação.
Sob Lula, havia sido ministro do Planejamento e presidente do
BNDES. Substituiu Antonio Palocci, frito por escândalos. Economistas padrão, o pessoal da finança, "organismos internacionais", a mídia financeira global, todos fizeram luto. Queriam Murilo Portugal, vice de Palocci, como novo ministro.
Portugal ocupou vários cargos públicos na vida, mas era quase um embaixador tucano no ministério. Aliás, a equipe de Palocci poderia ser a de um governo tucano -atenção, não há insulto nesta frase.
O paloccismo era arroz com feijão fiscal (controle de gastos), aliança com o Banco Central "falcão" e um programa de execução de reformas ditas "liberais" -as de fato executadas eram apenas racionais e foram um fator importante na retomada do crescimento que viria.
A política econômica de fato não mudou em 2006-07. Mas deixou de pender para o lado "liberal".
Sob inspiração de seus assessores (Portugal, Marcos Lisboa, Joaquim Levy), Palocci propunha redução de gastos públicos mais permanente, menos gasto social, desvincular reajustes da Previdência do salário mínimo (e reforma da Previdência), mais abertura comercial e mais reformas microeconômicas.
Mantega combatera Palocci, entrara em atritos públicos com os secretários da Fazenda e diretores do BC, fritava Henrique Meirelles (presidente do Banco Central), reclamava do dólar barato (a R$ 2,20, quando assumiu) e queria bancos estatais como motores do crescimento.
Em 2007, começou a falar em "social-desenvolvimentismo", "crescimento com distribuição de renda", o que ocorrera, de forma minguada, entre 2004 e 2006, e que ficaria mais importante em 2007-08.
A mudança da política econômica começou a aparecer na forma de "desenvolvimentismo acidental", a enxurrada de intervenções estatais que foi a resposta do governo Lula à crise mundial, em 2008.
Dados o contexto econômico global, o grande desastre de políticas ditas "liberais", o experimentalismo macroeconômico nos centros econômicos mundiais (mais por precisão, não por boniteza), a força da "heterodoxia" chinesa e o relativo sucesso brasileiro de curto prazo, ao menos, Mantega venceu.
Sob Dilma Rousseff (que combatera o paloccismo quando ministra), o enterro da política econômica de matriz tucana tornou-se programa explícito. E "o mundo não acabou", como dizia o "establishment".
Era o que dizia Guido Mantega em sua primeira entrevista coletiva como ministro da Fazenda. Hoje, faz seis anos que Mantega está no posto. Em longevidade, perde apenas para Pedro Malan (1995-2002), ministro durante todo o governo FHC, e para Artur de Souza Costa (1934-1945), que teve a administração cortada por algumas interinidades. Mas Mantega durou mais que Delfim Netto e Mário Henrique Simonsen, que fizeram história no cargo, durante a ditadura militar.
Mantega assumiu sob grande descrédito, embora a indústria tenha ficado contente com sua nomeação.
Sob Lula, havia sido ministro do Planejamento e presidente do
BNDES. Substituiu Antonio Palocci, frito por escândalos. Economistas padrão, o pessoal da finança, "organismos internacionais", a mídia financeira global, todos fizeram luto. Queriam Murilo Portugal, vice de Palocci, como novo ministro.
Portugal ocupou vários cargos públicos na vida, mas era quase um embaixador tucano no ministério. Aliás, a equipe de Palocci poderia ser a de um governo tucano -atenção, não há insulto nesta frase.
O paloccismo era arroz com feijão fiscal (controle de gastos), aliança com o Banco Central "falcão" e um programa de execução de reformas ditas "liberais" -as de fato executadas eram apenas racionais e foram um fator importante na retomada do crescimento que viria.
A política econômica de fato não mudou em 2006-07. Mas deixou de pender para o lado "liberal".
Sob inspiração de seus assessores (Portugal, Marcos Lisboa, Joaquim Levy), Palocci propunha redução de gastos públicos mais permanente, menos gasto social, desvincular reajustes da Previdência do salário mínimo (e reforma da Previdência), mais abertura comercial e mais reformas microeconômicas.
Mantega combatera Palocci, entrara em atritos públicos com os secretários da Fazenda e diretores do BC, fritava Henrique Meirelles (presidente do Banco Central), reclamava do dólar barato (a R$ 2,20, quando assumiu) e queria bancos estatais como motores do crescimento.
Em 2007, começou a falar em "social-desenvolvimentismo", "crescimento com distribuição de renda", o que ocorrera, de forma minguada, entre 2004 e 2006, e que ficaria mais importante em 2007-08.
A mudança da política econômica começou a aparecer na forma de "desenvolvimentismo acidental", a enxurrada de intervenções estatais que foi a resposta do governo Lula à crise mundial, em 2008.
Dados o contexto econômico global, o grande desastre de políticas ditas "liberais", o experimentalismo macroeconômico nos centros econômicos mundiais (mais por precisão, não por boniteza), a força da "heterodoxia" chinesa e o relativo sucesso brasileiro de curto prazo, ao menos, Mantega venceu.
Sob Dilma Rousseff (que combatera o paloccismo quando ministra), o enterro da política econômica de matriz tucana tornou-se programa explícito. E "o mundo não acabou", como dizia o "establishment".
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