FOLHA DE SP - 04/03/12
BRASÍLIA - Uma base aliada gigantesca como a de Dilma é uma faca de dois gumes. No início, os governantes adoram. Depois, lamentam.
Conveniente no Congresso, uma base tão inflada e heterogênea vira um problema na hora de fatiar os cargos de governo e um drama em ano eleitoral. É quando a chantagem corre solta, como agora.
PMDB, PDT, PSB, PTB, PR, os aliados se dizem insatisfeitos com o governo e irritados com o PT e ameaçam: Olha que vamos apoiar o Serra! As colunas de Oscar Niemeyer no Palácio do Planalto tremem.
Se vão trair mesmo ou não é outra história, mas o fato é que a candidatura de José Serra pelo PSDB sacode não só a campanha do petista Fernando Haddad, que ia tão bem, como desestabiliza a aliança em torno de Dilma. Uma penca de partidos estava pronta a apoiar Haddad, mas recuou e hoje negocia a céu aberto com os dois lados, pressionando o governo por cargos e favores.
A nomeação do bispo da Universal Marcelo Crivella (PRB) para o Ministério da Pesca reflete isso, tanto quanto o choro de Dilma na cerimônia de posse. É improvável que o motivo tenha sido Luiz Sérgio, demitido duas vezes do mesmo governo, na segunda por telefone, e muito plausível que seja pela enorme pressão a que ela está submetida.
Não é fácil resistir, até porque Dilma se aconselha com Lula e a prioridade dele é derrotar os tucanos em São Paulo. Se depender de Lula, Dilma cede e pronto. Mas isso contraria a natureza da presidente, mais técnica do que política.
Enquanto quem criava caso eram os partidos médios, dava para enrolar, mas o problema passou a ser com o gigante PMDB, que tem o vice Michel Temer e foi aliado de FHC. Dos seus 76 deputados, 45 assinaram manifesto contra a sanha hegemônica petista. O alvo ostensivo foi o PT, o real é o governo Dilma.
Os aliados adoram ser governo, mas estão se coçando para trair.
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