O GLOBO - 04/03/12
É dura a vida do presidente da Ordem dos Advogados, Ophir Cavalcante. No último ano ele condenou o tamanho da fila dos precatórios de São Paulo, a farra dos passaportes diplomáticos, as fraudes nos exames da Ordem, a atuação de advogados estrangeiros em Pindorama, o enriquecimento de Antonio Palocci e a blindagem dos "ficha suja". Defendeu a autonomia salarial do Judiciário e os poderes do Conselho Nacional de Justiça.
Como se sabe, Ophir Cavalcante é sócio de um escritório de advocacia em Belém e procurador do governo do Pará, licenciado desde 1998, quando se tornou vice-presidente da seccional da Ordem. Até aí, tudo bem, pois Raymundo Faoro era procurador do estado do Rio, apesar de não lhe passar pela cabeça ficar 13 anos com um pé na folha da Viúva e outro na nobiliarquia da Ordem.
Em agosto do ano passado, quando o Tribunal Regional Federal permitiu que Senado pagasse salários acima do teto constitucional de R$ 26.723, Cavalcante disse o seguinte: "O correto para o gestor público é que efetue o corte pelo teto e que as pessoas que se sentirem prejudicadas procurem o Judiciário, e não o contrário".
Em tese, os vencimentos dos procuradores do Pará deveriam ficar abaixo de um teto de R$ 24.117. Seu "comprovante de pagamento" de janeiro passado informa que teve um salário bruto de R$ 29.800,59.
O documento retrata as fantasias salariais onde a Viúva finge que paga pouco e os doutores fingem que recebem menos do que merecem. Isso não ocorre só com ele, nem é exclusividade do Ministério Público do Pará.
O salário-base do doutor é de R$ 8.230,57. Para os cavalgados, é isso, e acabou-se. No caso de Cavalcante, somam-se sete penduricalhos. Há duas gratificações, uma de R$ 6.584 por escolaridade, outra de R$ 7.095 por "tempo de serviço"; (na repartição, ficou três anos, mas isso não importa); R$ 4.115 por "auxílio pelo exercício em unidade diferenciada" (a procuradoria fica em Belém, mas ele está lotado na unidade setorial de Brasília).
Esse contracheque levou uma mordida de R$ 5.196 do Imposto de Renda. Se o doutor trabalhasse numa empresa privada, com salário bruto de 29.800,59, tivesse dois dependentes e pagasse, como ele, R$ 2.141 na presidência privada, tomaria uma mordida de R$ 6.760.
Finalmente, há R$ 314 de auxílio-alimentação, o que dá R$ 15,70 por almoço. A OAB precisa protestar: o Ministério Público paraense passa fome.
O aparelho petista tungou os ferroviários
A Rede Ferroviária Federal foi privatizada em 1996. Junto com o patrimônio da Viúva, torraram seus compromissos e o Serviço Social das Estradas de Ferro, com o plano de saúde de 90 mil trabalhadores caiu na mão de liquidantes nomeados pelo governo. Eram quatro, cada um recebendo R$ 19 mil por mes. Na administração petista, nomearam 48 companheiros e queimaram R$ 13 milhões de uma caixa de R$ 41 milhões, aplicados em papéis que hoje valeriam R$ 83,4 milhões.
O dinheiro sumiu, transformando-se numa dívida de R$ 52 milhões. O Tesouro Nacional reconhece que "o destino dos recursos (...) permanece não esclarecido" e a Agencia Nacional de Saúde Suplementar pede a liquidação extrajudicial do plano de saúde dos ferroviários.
Desde 1989 as vítimas contribuiram mensalmente para o plano. Vão para o sereno 17 mil trabalhadores, 1.670 acima dos 70 anos, três deles centenários.
O comissariado acusa a privataria tucana de ter dilapidado o patrimônio físico do Estado. Para os ferroviários da Rede, a privataria petista queimou-lhes o patrimônio social.
Malvinas, 30 anos
Vem aí os 30 anos da Guerra das Malvinas, um momento de brilho da diplomacia brasileira. Graças ao então chanceler Ramiro Guerreiro, o Brasil conseguiu ficar ao lado da Argentina, sem se aliar ao general-ditador Leopoldo Galtieri, que tomava umas doses a mais e achava que podia desafiar Margaret Thatcher, invadindo o arquipélago. Guerreiro tirou a meia sem tirar o sapato.
Roberto Campos era embaixador do Brasil em Londres e acreditava que Margaret Thatcher não desceria a frota. No dia 9 de abril de 1982, quando os ingleses estavam com o dedo no gatilho, o secretário de Estado americano Alexander Haig desceu no Recife para reabastecer seu avião.
Exausto, vinha de Londres e ia para Buenos Aires. O então governador de Pernambuco, Marco Maciel, levou-o para passear pela cidade e conversaram por mais de 1 hora. Maciel, que é capaz de ouvir o que não é dito e de ler o que não está escrito, entendeu tudo:
1) Haig aconselharia que os argentinos negociassem, pois o presidente Ronald Reagan ficaria ao lado dos ingleses.
2) Se os generais não cedessem, seriam batidos militarmente.
3) Derrotada, a junta militar estaria defunta.
Não deu outra, os argentinos renderam-se a 14 de junho e a ditadura foi ferida de morte. Galtieri morreu em 2003, em regime de prisão domiciliar.
Cortinas
A roupa de lamê dourado de Merryl Streep na noite do Oscar ecoava o inesquecível vestido de Scarlett O'' Hara (Vivian Leigh) em "E o Vento Levou".
Com uma diferença: Streep pegou o seu na Casa Lanvin e Scarlett, não tendo o que usar, vestiu uma cortina de veludo verde de sua casa.
Machão
Um curioso que viu Nicolas Sarkozy (1 m 65 cm) sentado à mesa de almoço do Palácio do Eliseu ao lado de Carla Bruni (1 m 79 cm) garante que o assento da cadeira dele é mais alto e o dela, mais baixo.
A moça não usa salto alto ao lado do marido, mas isso é pouco.
Empulhação
A Anvisa diz que "na área de alimentos, coordena, supervisiona e controla as atividades de registro, informações, inspeção, controle de riscos e estabelecimento de normas e padrões".
Um incauto acreditou e queixou-se por ter encontrado um congelador de frangos desligado, com a mercadoria dentro, num supermercado Walmart do Rio, onde pombos andavam pelos corredores.
Recebeu de volta uma mensagem automática, informando que deveria encaminhar sua queixa à central de atendimento para a prefeitura. Gentilmente, pediam que voltasse a se manifestar num prazo de 60 dias, do contrário, a queixa seria arquivada. Mais: "Não responda a este e-mail".
A Anvisa trabalha com a máxima de Nenem Prancha: "Chuta pra cima que enquanto estiver no céu não é gol". Em vez de retransmitir a queixa à prefeitura, repassam o trabalho à vítima. Não custava informar à choldra que a Anvisa não processa queixas pontuais.
Pegou pesado
A doutora Eliana Calmon perdeu o tato. Há juízes despreparados, venais, politiqueiros e preguiçosos, mas "vagabundo" está mais para o vocabulário dos "caveiras" do Bope do que para uma ministra do Superior Tribunal de Justiça.
Essa é a palavra que policiais e carcereiros usam para se dirigir a delinquentes.
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