FOLHA DE SP - 04/03/12
SÃO PAULO - Que os ricos admitem cometer mais violações éticas não é novidade. Pesquisa Datafolha de 2009 mostrou que as classes altas batiam os mais pobres em atitudes como furar o sinal vermelho, mentir no IR e infringir direitos autorais.
A dúvida era se os privilegiados eram só mais sinceros ou se, de fato, transgrediam mais. Surgem agora indícios favoráveis à segunda hipótese.
Psicólogos da Universidade da Califórnia desenvolveram uma série de experimentos que revelam que quem tem mais dinheiro trapaceia mais -e isso em contextos tão diversos como trânsito e jogos virtuais. Eles até roubam mais bombons de criancinhas.
A hipótese dos cientistas é a de que a cobiça leva os endinheirados a abandonar princípios morais em favor do interesse próprio. Em tempos de crise deflagrada por banqueiros, é popular falar mal de ricos. O quadro, porém, tende a ser um pouco mais complexo.
Se a tese dos pesquisadores é correta (e acho que é), os abonados trocam um padrão ético baseado em normas absolutas (deontológico) por um no qual as ações são consideradas boas ou más em virtude dos resultados que produzem (consequencialista).
Embora essas duas matrizes sejam mutuamente excludentes, nós estamos sempre pulando de uma para a outra. E por boas razões. Levados até o fim, tanto a ética deontológica quanto o consequencialismo produzem paradoxos inaceitáveis. Uma regra absoluta de jamais mentir obrigaria você a dizer para o policial nazista que esconde um judeu no sótão, o que implicaria a morte dos dois. Já um consequencialismo sem freios nos autorizaria a tomar como refém a mãe do traficante foragido para forçá-lo a entregar-se à polícia.
Antes de maldizer os ricos, lembre-se que, no agregado da sociedade, são as posições mais consequencialistas e menos moralistas típicas da classe média que estão na raiz de políticas progressistas, como a afirmação de direitos de minorias e a descriminação de comportamentos privados.
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