O GLOBO - 18/03/12
Se com o Congresso a relação está tensa, com o empresariado e com o mercado o governo está conseguindo melhorar a comunicação. As medidas para proteger a indústria e segurar o câmbio agradaram o setor empresarial e a clareza com que o Banco Central informou seus próximos passos da trajetória que pretende para os juros foi bem recebida pelo mercado. O clima de queda de braço que vimos no ano passado não existe mais.
O envolvimento pessoal da presidente Dilma Rousseff na busca de uma saída para a crise aguda na indústria também conta pontos a favor do governo, embora a solução não esteja à vista. No discurso, o governo diz que fará de tudo para a economia crescer 4,5% em 2012, mas nos bastidores ninguém acredita que isso seja possível.
Conhecer o verdadeiro plano de voo do governo para a economia é o sonho de consumo de qualquer analista. Nos detalhes, esse plano é guardado a sete chaves, mas algumas conversas com integrantes da equipe econômica podem fornecer boas dicas do que o governo espera da economia no curto e médio prazos.
Em relação ao comportamento da inflação, a avaliação é que o dragão está controlado, pelo menos até onde a vista alcança. Na mesa de uma autoridade, planilhas com os IGPs e o IPC da Fipe apontando para baixo destacavam-se entre os papéis. A equipe econômica acompanha com lupa esses índices e mantém na ponta da língua a performance do dragão durante a vigência do regime de metas. Nota-se o empenho em mostrar que as taxas do governo Dilma — considerando o primei ro ano de mandato e as projeções do mercado para os próximos dois anos — na média, estão em linha com a taxa média do governo Lula. Seria uma evidência de que a inflação permanece sendo o alvo central da ação do BC, como a ata do Copom reforçou na semana passada.
O problema é como viabilizar o crescimento desejado pela presidente Dilma. A conjuntura internacional é adversa, embora a equipe econômica veja luz no fim do túnel com os sinais de recuperação da economia americana e o afastamento do risco financeiro na Zona do Euro. E a política fiscal mais austera não ajuda nesse objetivo, na medida em que restringe os investimentos, mas é fundamental para viabilizar a queda nos juros.
A aposta maior é em 2013, mas para viabilizar o crescimento sustentado o governo sabe que precisa resolver os gargalos da infraestrutura, ampliando fortemente os investimentos. Despertar o que uma autoridade chama de “espírito animal” do empresariado faz parte dessa estratégia, mas o setor privado só voltará a investir, se não pairarem dúvidas de que a economia está caminhando nos trilhos.
Receita indiana
O economista indiano Rakesh Vaidyanathan, do Jai Group, diz que um dos motivos para o spread bancário na Índia ser menor que no Brasil é a quantidade de empresas no país com capital aberto. A Índia tem cerca de cinco mil empresas listadas em bolsa, enquanto na BM&FBovespa são apenas 466.O mercado de capitais concorre com o crédito bancário e dificulta o aumento das margens dos bancos.
— Ter bolsas fortes ajudou para que se tenha crédito
Mau negócio
A avaliação da economista Teresa Fernandes, da MB Associados, que acompanha o setor automobilístico, é que o novo acordo automotivo com o México será um mau negócio para os consumidores brasileiros: “Para preservar o emprego industrial, são os consumidores que vão pagar a conta com carros mais caros e de menor tecnologia. É nisso que resultará a menor concorrência.”
mais barato na Índia. O sistema financeiro por lá também é mais pulverizado. No Brasil, cinco grandes bancos controlam a maior parte do mercado — explica.
O custo Brasil, segundo Rakesh, estimula a consolidação setorial no país. Como as pequenas e médias empresas enfrentam dificuldades com os impostos, a infraestrutura e os custos trabalhistas, a solução é a consolidação para que se tenha ganhos de escala.
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