FOLHA DE SP - 18/03/12
Nivaldo Maciel (1920-2009) não é um nome nacionalmente conhecido, mas é um ícone da história do município de Montes Claros e do norte de Minas Gerais.
Intérprete de modas de viola, poeta, seresteiro, sapateador, dançador de lundus e guaianos, tropeiro, aboiador, político, chefe de família e pai de 11 filhos, foi protagonista de positivas transformações em sua terra e nas redondezas.
A trajetória desse brasileiro é retratada no livro "Nivaldo Maciel - Encontros de Vida e Arte", das pesquisadoras Marta Verônica Vasconcelos Leite e Raiana Alves Maciel Leal do Carmo -esta última descendente do biografado.
A publicação, pela editora Unimontes (Universidade Estadual de Montes Claros), resgata valores do cotidiano, da cultura, da música e da poesia do interior mineiro. São caracteres peculiares a muitas regiões que vão se perdendo na poeira da comunicação de massa, das mídias digitais e da expansão demográfica.
A identidade regional de nossa riquíssima cultura, conforme o exemplo das serestas de Montes Claros -iluminadas, junto com o casario colonial, por uma lua singular-, perde-se muitas vezes na efervescência desse século da informação sem limites e da competitividade exacerbada.
Resistentes, escritores como Haroldo Lívio, da mesma região, insistem na defesa das peculiaridades: "Montes Claros tem umas coisas que as outras terras não têm", afirma no site da 93 FM, como, por exemplo, o Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez, referência em qualidade de ensino no gênero.
Nesse imenso Brasil, cada cidade e cada local têm seus segredos, suas histórias, seus heróis, suas músicas, tudo diferente, inusitado!
Precisamos redescobrir esse país mais sereno de tão pouco tempo atrás, com menos violência e individualismo e mais foco no dia a dia de trabalho, amor e solidariedade. Uma terra sem medo das noites e suas promessas musicais, com homens sem constrangimento de cantar à janela de mulheres tímidas e receber um sorriso nas doces madrugadas.
Não se trata de saudosismo, mas de ansiedade na reconquista de um Brasil da alegria espontânea, do abraço amigo, do prazer de receber e de compartilhar. Virtudes que sempre encantaram todo mundo e forjaram personagens como Nivaldo Maciel e, também, Luiz de Paula Ferreira, inspirado autor da canção "Montes Claros, Vovó Centenária".
Como observam as autoras da biografia, "nesses caminhos nem sempre fáceis, prenhes das distâncias e carências da região, homens encantados pelas folias e por outros cantares aprenderam e ensinaram de maneira livre a arte da vida". Não podemos abrir mão desse Brasil, que é de todos nós.
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