Os 52% de votos obtidos por José Serra na prévia que escolheu o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo acabaram traduzidos como um mau resultado pela desproporção entre a estatura do salto alto, expressa na expectativa de obter 80% de apoio, e a realidade interna do partido na cidade.
Contou também a discrepância entre o tamanho da pressão das lideranças tucanas para Serra entrar na disputa e o peso do desgaste na militância que, embora reconheça nele o candidato mais forte, almeja renovação e deve andar um tanto cansada de viver a reboque de suas idas e vindas.
Outra razão de se enxergar a vitória como uma quase derrota é que a comparação é feita com o PT, onde há uma liderança com força de lei da gravidade. Isso já houve entre os tucanos paulistas com Mário Covas, mas não existe em nenhum partido. Nisso, o diferente é o PT.
Não há cotejo possível com o próprio PSDB pelo simples fato de que a prévia de domingo foi a primeira realizada no partido.
Em candidaturas anteriores de Serra a prefeito, governador e presidente, quantos votos ele teria, qual o porcentual que atingiria? Não se sabe.
O instituto das prévias não nos é familiar, o que dificulta a leitura da cena. No caso dos tucanos de São Paulo, parte-se do pressuposto da inexistência de prévia se Serra tivesse apresentado logo a candidatura.
Uma vez que não queria e o partido não tinha um candidato natural, quatro postulantes se apresentaram ao debate e durante sete meses fizeram campanha junto à base partidária.
Quando Serra entrou no páreo, tangido pela evidência de que não era hora de fazer renovação porque isso resultaria na entrega da principal cidadela ao PT, dois pretendentes desistiram e dois ficaram. Lastreados em compromissos já firmados com seus eleitores de base.
Na final havia três candidatos e, portanto, votos a dividir. Desses, José Serra obteve 52% (precisava de 33%), o segundo colocado 31,2% e o terceiro 16,7%. A expectativa (arrogante) de que ele poderia conquistar de 70% a 80% decorreu de desdém em relação ao papel dos outros dois.
Um revés didático. Mostrou a impossibilidade de que prevaleçam vontades unilaterais. Há um preço a ser pago, principalmente quando há um processo em curso e o fator fadiga de material pesa na balança. Na ausência de lideranças incontestáveis não existe apoio incondicional.
Muito bem, mas o que a votação abaixo do esperado pode significar em termos de prejuízo eleitoral para Serra? Para o eleitor em geral, a importância é zero.
Estamos falando de um ambiente de seis mil militantes contra um universo de milhões de eleitores. Neste é que o PSDB precisará disputar com o PT que, a despeito das adversidades atuais (ausência de Lula, resistência de Marta Suplicy, baixo índice nas pesquisas, dificuldade de formar alianças), é adversário de peso.
Entre o tucanato a divisão exibida na prévia não necessariamente será reproduzida de maneira significativa na campanha.
São lógicas diferentes. Na disputa partidária o jogo se dá em torno do poder intramuros. Na eleição a conta é mais pragmática, pois os benefícios decorrentes da vitória interessam ao partido como um todo.
Lado B. A ampliação do conceito de "ficha limpa" de candidatos a cargos eletivos para funcionários em cargos de confiança nos governos, assembleias, câmaras municipais, tribunais, havendo até quem proponha a exigência para diretores de ONGs, é louvável.
Não obstante evidencie o tamanho do desleixo até então vigente em relação à vida pregressa de agentes públicos.
Ponto de vista. Qualquer votação no Congresso que resulte diferente da vontade do Palácio do Planalto é contabilizada como "derrota do governo".
Não fosse a perda gradativa da noção do equilíbrio entre os Poderes, seriam vistas simplesmente como decisões do Legislativo.
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