VALOR ECONÔMICO - 28/03/12
É certo que a indústria está pressionada pelo ambiente internacional adverso, que, por causa da desaceleração das economias avançadas, criou uma superoferta de produtos manufaturados em escala global. É bem provável, entretanto, que o principal problema esteja, mais do que na taxa de câmbio e na competição dos importados, no grau de confiança dos empresários.
Na crise de 2008, a produção industrial, assim como toda a economia, foi pega de surpresa. Naquele momento, o Produto Interno Bruto (PIB) crescia a mais de 6% ao ano, liderado pelos investimentos das empresas - no terceiro trimestre de 2008, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que reflete os gastos com máquinas e equipamentos, avançara quase 20%.
Traumatizado por crises anteriores, o empresário pisou no freio, provocando uma parada súbita na economia. No período seguinte, a FBCF recuou fortemente e chegou a registrar três trimestres de desempenho negativo. A recuperação só veio no último trimestre de 2009, quando ficou claro que o Brasil sobrevivera bem à crise e estava pronto para voltar a crescer.
O que se viu dali em diante foi euforia. A taxa de investimento disparou, chegando a avançar quase 30% no primeiro trimestre de 2010. É verdade que, na ocasião, o governo concedeu fortes estímulos fiscais e monetários, que fizeram o PIB crescer em 2010 à maior taxa (7,5%) desde 1986. No último trimestre daquele ano, o investimento começou a recuar.
Em 2011, as taxas trimestrais de investimento foram medíocres - respectivamente, 8,85%, 6,19%, 2,48% e 1,99%, quando comparadas ao mesmo período do ano anterior. Não podia ser diferente. Primeiro, o BC deu um tranco na economia via aumento de juros e adoção de medidas macroprudenciais, ações que já eram esperadas desde a segunda metade de 2010, uma vez que a inflação havia acelerado. Além disso, em meados do ano passado, a crise mundial voltou a assombrar.
Nesse ambiente, a confiança dos empresários ficou seriamente abalada. Os dados da Sondagem da Indústria, da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostram claramente isso. Em dezembro de 2010, o índice de confiança chegou a 114,5 pontos e permaneceu em torno desse valor até abril, mas, nos meses seguintes, recuou fortemente, atingindo o pior desempenho em outubro e novembro, quando caiu para 100,7 pontos. É bom lembrar que, naqueles meses, o mundo vivia o risco de um calote desordenado da Grécia, fato que, se confirmado, precipitaria crise sem precedente na zona do euro.
Tome-se o PMI (sigla em inglês para índice gerente de compras), apurado pela Markit, no Brasil em parceria com o banco HSBC, e o diagnóstico é o mesmo. Quando o PMI fica acima de 50 pontos, indica crescimento; abaixo de 50, retração. O indicador, que é calculado em 32 países, mostra igualmente a confiança dos empresários industriais no desempenho da economia.
Nos dois melhores momentos (2007-2008 e 2009-2010) do ciclo recente da economia brasileira, o PMI superou a marca de 55 pontos. Em meados de 2011, o indicador entrou em terreno negativo, refletindo o abatimento da indústria com as conjunturas nacional e internacional.
A boa notícia é que, tanto no caso da Sondagem da FGV quanto no do PMI, a situação já começou a melhorar. O índice de confiança da FGV mostra recuperação lenta, mas consecutiva desde dezembro - passou de 101,8 para 102,5 pontos em fevereiro (com ajuste sazonal). O índice aberto mostra recuperação mais lenta do Índice de Expectativas e mais expressiva do Índice da Situação Atual, que leva em conta os estoques. A proporção de empresas informando ter estoques excessivos recuou de 8% em dezembro para 4,3% no mês passado, um sinal de que a indústria, mantida a demanda aquecida, deve acelerar o passo nos próximos meses.
No caso do PMI, a recuperação recente da confiança da indústria está refletida no indicador de fevereiro (51,4 pontos), o mais alto em quase um ano. O resultado também revelou que o índice de estoque de bens finais permaneceu abaixo de 50 pontos, o que indica retração.
Na exposição que fez nos EUA, Tombini lembrou que os fatores que têm mantido a demanda doméstica aquecida continuam presentes. São eles: a taxa de desemprego nos menores níveis da história; a forte criação de empregos formais; o crescimento real da renda do trabalho; e o avanço sustentável do crédito na economia.
De fato, em fevereiro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego foi de 5,7%, a menor da série histórica - apurada desde 2002 - para meses de fevereiro. É bastante provável que o desemprego continue baixo nos próximos meses. Especialistas constataram que, para manter as atuais taxas de desocupação, a economia brasileira não precisa crescer mais do que 3% ao ano.
Outro sinal de que, apesar do desaquecimento verificado na segunda metade do ano passado, a economia brasileira começa a reagir é a geração de empregos com carteira assinada, que voltou a acelerar nos últimos meses. Nos 12 meses concluídos em fevereiro, foram criados 1,4 milhão de empregos formais no país, um resultado expressivo.
O rendimento médio real da população ocupada também tornou a subir. Em fevereiro, quando comparado ao mesmo mês do ano passado, avançou 4,4%. As vendas no varejo, por sua vez, expandiram 7,3% em janeiro, quando comparadas a janeiro de 2011, e 7,7%, se incluídos automóveis e materiais de construção.
Palavras de Tombini: "Nos últimos meses, as indústrias reequilibraram seus estoques. Junto com os fortes impulsionadores da demanda doméstica e o ajuste das condições monetárias, isso favorece a retomada do crescimento da produção industrial nos próximos meses."
Nenhum comentário:
Postar um comentário