O GLOBO - 05/03/12
Falta de moderação nos financiamentos imobiliários. Falta de moderação no grau de alavancagem do sistema financeiro. Falta de moderação na concessão de créditos a governos nacionais, após a criação do euro, sem a devida avaliação quanto aos fundamentos fiscais. Falta de moderação nos déficits fiscais e no endividamento público como resultado de promessas demagógicas e irrealistas da obsoleta plataforma social-democrata. Falta de moderação também no uso dos instrumentos de política econômica para a consecução das metas estabelecidas.
Aqui se torna compreensível o paradoxo de os economistas chamarem de "Grande Moderação" justamente essas duas décadas em que perdiam o juízo políticos, financistas, famílias, embriagando-se todos com o endividamento excessivo. Os economistas celebravam como "Grande Moderação" seu sucesso no uso dos instrumentos de política monetária e fiscal em obter taxas altas e estáveis de crescimento em meio a taxas baixas e estáveis de inflação. Um mundo livre das grandes flutuações cíclicas, dos booms e das recessões.
Mas poucos perceberam que a redução na amplitude dos ciclos estava sendo obtida por doses cada vez mais elevadas de liquidez. Dinheiro barato para créditos temerários. Aumentavam a frequência e a amplitude das oscilações registradas nos instrumentos monetários e creditícios a cada tentativa de abafar as flutuações nas metas de crescimento e inflação. Tornavam-se cada vez mais instáveis os fundamentos quanto mais garantias anticíclicas ofereciam os governos. A percepção de risco era anestesiada enquanto subia exponencialmente o risco sistêmico. Os bancos centrais injetaram nas veias bancárias mais de dois trilhões de dólares (uma selvagem oscilação nos instrumentos), na desesperada tentativa de manter algum crescimento ("moderando" o ritmo de desaceleração econômica). Cada vez mais drogas, e as dores continuam.
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