FOLHA DE SP - 26/03/12
Com ela, espera-se não só que os investimentos conservadores tenham seu desempenho prejudicado mas também que os juros praticados em empréstimos e financiamentos também sejam reduzidos.
Dados da Febraban indicam, porém, que tanto os juros praticados no crédito quanto o "spread" (margem de ganho) bancário não têm acompanhado a queda da Selic.
Em outras palavras, apesar de o dinheiro custar menos na economia, os bancos mantêm os preços cobrados de seus clientes. Porém, na atual conjuntura, os bancos estão longe de serem os vilões dessa história.
Há diversos sinais de enfraquecimento da capacidade de crescimento do Brasil. O grande boom de consumo e de uso do crédito observado nos últimos anos foi consequência da expansão nos empregos formais, o que abriu as portas dos bancos para a classe média.
Com educação financeira cada vez mais presente na mídia, o consumidor esteve atento e aproveitou o que havia de mais barato no crédito, como o financiamento de imóveis, automóveis e educação, além de empréstimos com desconto automático em folha de pagamento.
Há dois anos, a prestação da casa ou do carro novo cabia no orçamento familiar. Só que, com o tempo, surgiram contas que antes não faziam parte dos planos do consumidor, como IPVA, IPTU, multas e reparos emergenciais, entre outros.
Mesmo com aumentos no salário, a classe média não está conseguindo dar conta da manutenção de suas aquisições e o dinheiro está acabando antes do fim do mês.
Hoje essa classe média já está endividada, começando a perder o controle das contas e recorrendo a produtos de crédito mais caros, como o cheque especial e o crédito rotativo no cartão de crédito.
Na média, os juros ao consumidor se mantêm elevados não por força dos preços praticados pelos bancos, mas pela piora nas escolhas de crédito feitas pelos consumidores.
O elevado "spread" praticado no varejo se deve, na verdade, à facilidade com que os consumidores aceitam recorrer a empréstimos caros e convenientes, oferecidos tipicamente a quem erra no planejamento -ou seja, maus pagadores em potencial.
Isso mudaria se, ao escolher grandes itens de consumo, o consumidor percebesse a necessidade de contar com imprevistos no orçamento e assumisse um padrão um pouco mais modesto em suas escolhas.
Deveriam os bancos, de boa vontade, forçar a redução nos juros? De forma alguma, pois a atividade dos bancos, como de qualquer empresa, deve ser lucrativa.
O papel do bancário é trabalhar para que os lucros de seu empregador aumentem sempre.
Quem tem o papel de combater o aumento desproporcional dos lucros é o consumidor, pesquisando nas diversas instituições as alternativas mais baratas e contratando o serviço que melhor lhe atenda. É o livre mercado, a concorrência saudável, que mantém os preços em patamares saudáveis. A própria Febraban, em seu site (www.febraban.org.br), oferece um serviço de comparação de tarifas para facilitar a escolha dos consumidores.
Se o cliente resiste a pesquisar ou a mudar sua conta em busca de soluções melhores, o vilão não é o banco, mas sim a limitada educação financeira e um comportamento passivo diante dos custos altos.
Entretanto, o número reduzido de instituições financeiras no Brasil, fruto da forte regulação que traz segurança a esse mercado, pode ser um obstáculo ao livre mercado.
Mesmo assim, eventuais injustiças podem ser corrigidas pelas regras do capitalismo democrático. Se você acha que seu banco lucra demais, compre ações da instituição e divida com ela esse lucro.
Lucros são saudáveis a qualquer empresa, pois é deles que nascem os investimentos, que, por sua vez, garantem empregos e tributos.
Questionar os lucros de empresas de qualquer segmento da economia é pregar o retrocesso. Admirar e participar desses lucros como investidor, por outro lado, é sinal de amadurecimento da população -talvez os melhores frutos a serem colhidos da educação financeira.
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